segunda-feira, 22 de abril de 2013

Número 23 - Capa

EDITORIAL


Espiritismo e Progresso

Angélica Santos

No início deste terceiro milênio, conhecido nas hostes espíritas como a Era do Espírito, nota-se que a Doutrina codificada por Allan Kardec vem tomando novos rumos, não só através dos meios de comunicação, como também em interesse de inúmeras pessoas nos mais variados segmentos sociais.
Isso nos convida a pensar em alguns velhos conceitos vivenciados em nosso meio, impedindo que possamos aceitar a realidade em que vivemos, atualizando conceitos e ações nos trabalhos das nossas casas e no movimento espírita como um todo.
O progresso vem colocando ao nosso alcance condições de praticarmos ações modernas, condizentes com aquilo que a sociedade global espera de uma doutrina evolucionista e seguidora dos passos científicos, conforme preconizou Kardec.
É preciso que esqueçamos as disputas, a rejeição a novas condições de conduzir o movimento, forjando idéias preconcebidas entre o porvir, o que se está vivenciando e o passado. É preciso escolher novos rumos, avançar, e quanto mais cedo cerrarmos fileiras na sua moderna condução, esse avanço tornar-se-á mais fácil.
A nova linha literária que vem pouco a pouco ganhando espaço entre os estudiosos e adeptos do Espiritismo nos convida a estudos profundos, sem, contudo, nos afastar das bases criadas em 1857, da qual a mais moderna literatura não se afasta, não foge.

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Nesta edição:

Coube a Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, fazer a classificações dos intermediários entre os homens e os Espíritos. Será que há também vários tipos de passistas? Veja na Página 7.

Marco Antonio Silva Pinto é o articulista desta edição e nos fala sobre um problema que atormenta muitos médiuns, embora sem razão: o animismo. Página 8

Aristóteles Peixinho, o “Tio Peixe”, desencarnou em 2011, após dedicar toda sua vida à difusão do Espiritismo na cidade de Serrinha. Nossa homenagem a ele está na Página 3.

A cantora Edith Piaf, eterno mito da música francesa, tornou-se adepta do Espiritismo após a perda de uma pessoa querida. Esta e outras curiosidades a respeito da Doutrina dos Espíritos estão na Página 7.

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Vulto homenageado

Aristóteles Damasceno Peixinho
(1.11.1920 - 13.1.2011)

“A luz que brilhou em Serrinha.”

Número 23 - página 2

MOVIMENTO

Francisco Bispo dos Anjos retorna à Pátria Espiritual

Homenageado por familiares e amigos, foi sepultado na tarde do domingo 14 de abril, no cemitério Jardim da Saudade, o corpo de Francisco Bispo dos Anjos, desencarnado aos 89 anos de idade. Tendo exercido a presidência e vice-presidência da Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) e, por vários anos, a secretaria da Comissão Regional Nordeste, órgão do Conselho Federativo Nacional, da Federação Espírita Brasileira, Bispo ainda atuou no jornalismo, ao assinar uma coluna semanal no extinto Jornal da Bahia, além de ter sido auditor fiscal aposentado da Receita Federal.
Dentre as mensagens solidárias recebidas pela família, destaca-se a do médium Divaldo Franco: “Graças a Deus, o querido Chico libertou-se do fardo carnal, após uma existência de apóstolo. Pai, esposo, filho, irmão e amigo, ele foi um exemplo durante a jornada física”. Do casamento de 55 anos com Zaida Macedo Bispo, falecida em 2010, Chico, como era carinhosamente apelidado, deixa sua lição de vida aos seis filhos (Paulo, Elvia, Marcelo, Eliane, Marcos e Silvano), dez netos e três bisnetos.

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Seminário da FEEB discute atualidade das Leis Morais

A Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) promove o Seminário “Atualidade das Leis Morais” no dia 28 de abril de 2013, às 9h, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador.
O seminário marca o encerramento da Caravana da Fraternidade 2013. Como o evento é gratuito, o acesso ao Centro de Convenções está condicionado ao credenciamento, para o controle entre o número de participantes e o número de assentos do teatro.
A credencial é adquirida com os coordenadores dos Conselhos Distritais por meio de inscrição, disponível na secretaria da FEEB, sede Iguatemi.
A promoção da FEEB conta com a participação dos expositores convidados Eliseu Florentino e Dora Incontri, ambos de São Paulo.

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CURTAS

O médium e tribuno José Medrado inaugura no dia 17 de março a série de seminários que o C. E. Deus, Luz e Verdade realizará ao longo de 3013. O tema é “Família: aperte mais esse laço” e após a palestra o médium conduzirá uma sessão de pintura mediúnica que terá, depois, as telas leiloadas.

A escritora e educadora espírita paulista Dora Incontri cumprirá, no período de 11 a 17 de março, uma extensa agenda de compromissos em Salvador, realizando palestras em várias Casas Espíritas e culminando nos seminários “Como educar nossos pais?”, dirigido à juventude espírita, e “Como educar nossos jovens?”, no Núcleo Espírita Telles de Menezes.

A Diretoria Executiva da Casa de Oração Bezerra de Menezes (Cobem) concedeu status de Departamento ao antigo Setor de Atendimento Fraterno, até então vinculado ao Departamento de Ação Mediúnica (DAM). Sob a direção da trabalhadora Odete Moreira, o Departamento de Atendimento Fraterno (DAF) reuniu no final de março os coordenadores de atividades e grupos de atendimento com a finalidade de apresentar seu plano de ação para a gestão 2013-2014.

Número 23 - página 3

MEMÓRIA


“Tio Peixe” e a luta pelo Espiritismo em Serrinha

Margarida M. Cardoso e Silva Souza
Diretora-presidente do Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade, de Serrinha-BA
(Texto recolhido no blog “Memória Espiritual”, de Fábio Pires)

Primeiro de novembro de 1920! Nas terras do Uauá, em pleno sertão baiano castigado pela seca e pela escassez de recursos, nasce Aristóteles Damasceno Peixinho, filho de Belarmino da Silva Peixinho e Adelaide Damasceno Peixinho. De tez morena, olhar penetrante, cabelos pretos, testa larga, mais parecia um Tibetano naquele rincão sertanejo. Aos seis anos de idade, a mediunidade desponta com a vidência e a audiência, o que, naquela época, constituía um fato singular. Cresce, em contato com os Espíritos, aprendendo, desde cedo, a lidar com esse “mundo” de seres incorpóreos, com toda a sua complexidade. Por forças das circunstâncias, e por que não dizer: providenciais, a família transfere-se para Serrinha, Bahia.
O nosso biografado, com 23 anos de idade, agora respirando outros ares, toma conhecimento de um movimento incipiente que alguns interessados lideram. Eram os primeiros fenômenos mediúnicos que ali surgiam, acordando a comunidade serrinhense para o Espiritismo. Portador de uma mediunidade ostensiva, ingressa nesse movimento e, junto de outros, funda o Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade, sob a égide dos Espíritos Irmão Estrela, Vilas Boas e Marco Antônio, que orientam as bases legais e ensinam como dirigir a instituição nascente. A partir daí, entrega a sua vida, numa dedicação exclusiva, à Causa Espírita, buscando, sabiamente, conciliar as responsabilidades da família constituída com as da sua crença.
As lutas enfrentadas para a instauração do Espiritismo numa comunidade eminentemente católica, eram imensas! Todavia, seu poder de liderança, sua figura carismática e a mediunidade a serviço do bem foram ferramentas por ele utilizadas para a implantação das ideias espíritas, difundido as sementes do Evangelho de Jesus no coração do povo serrinhense. Junto a uma equipe de colaboradores, transformou o Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade em um polo estruturante que ampliou sua ação para as regiões circunvizinhas, vindo a fundar 13 Instituições Espíritas, fruto da sua perseverança e determinação. A partir de um encontro, pela vidência, com o Espírito Madre Teresa de Calcutá, que o convida a vivenciar toda a teoria espírita apreendida, desenvolve um trabalho de assistência social, voltado para a promoção do homem, onde famílias numerosas foram agraciadas por recursos materiais, na construção e reformas de casas para a população de baixa renda.
Ao lado da confreira Oliva A. Mendonça, já desencarnada, funda a Associação Mansão Marco Antônio, de amparo à velhice, obra que se mantém de pé com outros continuadores, incansáveis trabalhadores do bem. Foram seis décadas de trabalhos ininterruptos, desde sua dedicação nas câmaras mediúnicas como ser interexis-tencial, até o seu labor diário, contribuindo para o bem-estar coletivo, numa entrega total e esquecimento de si mesmo. Os que tiveram a graça de com ele partilhar as experiências numinosas levarão consigo, como marcas indeléveis, a certeza da imortalidade e a segurança nos princípios doutrinários, tocados que foram pelas clarinadas do Evangelho de Jesus.
Como resumir em poucas linhas uma vida dedicada ao bem coletivo que, aos noventa anos, volta à Pátria Espiritual como cidadão do infinito, deixando impregnado nas almas o doce aroma do seu exemplo? A Aristóteles, o nosso preito de profunda gratidão por sua presença entre nós! Pelas experiências compartilhadas, pelas lágrimas secadas, pela consolação prodigalizada. Parafraseando Winston Churchill, afirmamos: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos!”

Número 23 - página 4

ENTREVISTA


“Uma oportunidade de ajuste com as leis de Deus”

Nossa entrevistada é Juscélia Lima Barbosa (Ju), atual presidente, eleita recentemente, da Associação Jacuipense de Estudos Espíritas Casa do Evangelho, localizada na cidade de Conceição de Jacuípe, na região de Feira de Santana.



- Como se deu seu envolvimento com a Doutrina Espírita e desde quando colabora com a Casa que você dirige?
- Aos 28 anos de idade física ganhei um exemplar de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de uma amiga de infância que já era espírita; guardei este livro por dois anos aproximadamente. De repente, comecei a sentir um vazio muito grande em minha vida, que nada nem ninguém preenchia, e tomei a iniciativa de ler aquele livro; na medida em que me envolvia com aqueles ensinamentos, o vazio era preenchido. Foi daí que tomei a decisão de procurar um Centro Espírita, e no dia 2 de julho de 2001 cheguei à Casa do Evangelho, onde estou até hoje.

- Que representa para você, dirigir uma Instituição como a Casa do Evangelho?
- Um convite a mais para a reforma íntima e, seguindo as diretrizes do Cristo, uma oportunidade de ajuste com as leis de Deus.

- Quais os serviços que a Casa oferece à comunidade assistida?
- Atendimento fraterno, evangelização infantil, grupos de estudo, reuniões doutrinárias, fluidoterapia e visitas de implantação do Evangelho no Lar.

- Que tipo de atuação você pretende implantar em sua administração?
- Percebo uma grande necessidade de qualificação de trabalhadores. Pensando nesta questão, desejo atuar incentivando a atual equipe a se auto capacitar, através da participação em grupos de estudos, seminários etc., com o objetivo de todos adquirirem conhecimento para servir com segurança e conhecimento, a todos que nos procurem em busca de auxílio e esclarecimento.

- Em sua opinião, que é preciso fazer para tornar uma Casa Espírita mais presente na vida da comunidade? 
- Que seus representantes (que somos todos nós, estudantes desta Doutrina) vivenciem e divulguem o Evangelho de Jesus, os ensinamentos dos Espíritos dentro e principalmente fora das casas.

Número 23 - página 5


NOTÍCIAS

FEEB e AME comemoram os 90 anos de Ildefonso do Espírito Santo

Matéria e foto de Shirley Oliveira / Jornalista


A Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) e a Associação Medica Espírita da Bahia (AME), homenagearam o confrade Ildefonso do Espírito Santo pela passagem do seu 90.º aniversário. A atividade aconteceu na noite da segunda-feira 11 de março, no auditório da FEEB, sede Iguatemi.
Para André Luiz Peixinho, presidente da FEEB, esse ato simbólico de celebração do aniversário de Ildefonso do Espírito Santo teve a importância de reconhecer o trabalho de um dos pioneiros do Espiritismo que muito contribuiu com a evolução do Movimento Espírita baiano.
O homenageado, com a tranquilidade que lhe é peculiar, agradeceu e transformou o momento em mais um ensinamento, ao declarar que tem gratidão pelo que aconteceu em toda sua vida, sendo o mais importante evento o ato de ter conhecido a Doutrina Espírita ainda na infância. Espírito Santo explicou também que as experiências vividas superaram todas as suas expectativas: “Agora só falta eu passar para o outro lado, para ver as surpresas a mais que a vida me prepara”, concluiu.
Ildefonso do Espírito Santo, ainda jovem, esteve presente na visita da Caravana da Fraternidade, que em 1950 percorreu o Brasil em prol da unificação doutrinária. Essa Caravana teve a participação, dentre outros espíritas, do baiano Leopoldo Machado.
Espírito Santo é médico sanitarista, foi presidente da FEEB entre os anos de 1982 e 1988, fundador e presidente da AME. Conhecido pela fama de conciliador, amigo, empreendedor, entusiasmado com o espiritismo e grande incentivador da juventude da antiga União Espírita, Ildefonso completa 90 anos em 11 de março de 2013.
O evento foi seguido pela palestra da educadora Dori Inconti, que proferiu o tema “Educação e Mediunidade”.

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POESIA

Ajuda-te

Casimiro Cunha

Se queres conforto e paz
Nunca reproves ninguém.
Se buscas os bens do Céu,
Começa fazendo o bem.

No campo da humanidade
Não colherás a alegria,
Sem plantar com toda gente
A graça da simpatia.

Ajuda-te! Em toda parte,
Bondade é sol que abençoa.
Planta nobre não prospera
Sem bases na terra boa.

Caridade, gentileza,
Auxílio, calma e perdão
São das preces mais sublimes
Em teu altar de oração

Recorda que em toda vida,
Conforme a nossa procura,
O Criador nos responde
Nos gestos da criatura

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Aniversariantes do trimestre

Janeiro
3 - Jéssica
11 - Jonilda
29 - Anselmo

Fevereiro
2 - Hiolanda
19 - Tânia
28 - Antonio Osvaldo

Março
3 - Cristiane
7 – Jurandir

Não vou pintar os meus cabelos brancos,
Minha pele enrugada deixo-a assim;
As mãos do tempo é que me transformam
E me conduzem do começo até o fim.

Número 23 - página 6


DOUTRINA

Neutralidade?

Francisco Muniz
Jornalista e avô


"Tendes aprendido que foi dito: olho por olho, dente por dente. - Eu vos digo para não resistirdes ao mal que se vos quer fazer; mas se alguém vos bate na face direita, apresentai-lhe também a outra; - e se alguém quer demandar contra vós para tomar vossa túnica, abandonai-lhe ainda vossa capa; - e se alguém quer vos constranger a fazer mil passos com ele, fazei ainda dois mil. - Dai àquele que vos pede, e não repilais àquele que quer emprestar de vós."
Palavras de Jesus no Evangelho de Mateus (5:38-42). Relembro-as a propósito da frase atribuída ao bispo sul-africano Desmond Tutu, segundo a qual a posição de neutralidade em situações de violência e injustiça configura tomar o partido do agressor. Meditando com base nas lições do Evangelho, veremos que não é bem assim, caso contrário se estaria negando o ideal cristão abraçado com muita responsabilidade. A violência é um mal e resistir a ela, recalcitrando, reclamando, brigando, altercando é dar força ao mal. O Cristo nos esclarece que bem melhor é perdoar a todos por tudo que nos façam.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, lemos, no capítulo XII, intitulado "Amai os vossos inimigos", o tópico "Se alguém vos bate na face direita, apresentai-lhe também a outra", informando-nos que "os preconceitos do mundo sobre o que se convencionou chamar o ponto de honra dão essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a restituir injúria por injúria, insulto por insulto, o que parece a justiça para aquele cujo senso moral não se eleva acima das paixões terrestres (...)".
É sempre oportuno pensarmos um pouco mais profundamente, destituídos das paixões que nos fazem perder a medida do comedimento e do equilíbrio, manifestando atitudes das quais só muito tempo depois vamos nos arrepender. Por isso o comportamento equilibrado é muitas vezes confundido com neutralidade que nesses casos tais pessoas entendem como indiferença, querendo sempre que lhe deem razão em seus momentos de desvario emocional, somente porque se acham "com razão"...
Mas se recordássemos, pelo aprendizado sincero e consequente, as lições de Jesus, agora bela e eficazmente interpretadas pelo Espiritismo, meditaríamos as palavras de Allan Kardec, que nos pede: "Dirigi vossos olhares para a frente; quanto mais vos eleveis pelo pensamento, acima da vida material, menos sereis magoados pelas coisas da Terra".

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Programação de Atividades do C. E. Lar João Batista

Doutrinárias – Domingo, 10 horas; segunda-feira, 20 horas; quinta-feira, 16 horas.

Passes - Segunda-feira, 16 às 18 horas; terça, 16h30 às 18h; quarta, 10 às 11 e 16 às 18h; quinta, 17 às 18 e 19 às 20h; sexta, 16 às 18h; sábado, 15h30 às 16h30.

Entrevistas - Quarta-feira, 10 às 11 horas; sexta-feira, 15h30 às 17h30.

Escola mediúnica - Quinta-feira, 20 às 21 horas; sábado, 15 às 16h30.

Curso básico - Quinta-feira, 20 às 21h30; sábado, 15 às 16h30; domingo, 9h30 às 11 horas.

Grupos de estudo - Terça-feira, 20 às 21h30; quarta-feira, 9 às 10h; quinta-feira, 20 às 21h30; sexta-feira, 15 às 16h.

Evangelização – sábado, 8h30 às 10 horas.

Pré-requisito para acesso a grupos de estudo: ter o curso básico.

“O amor que compreende o erro é êmulo do amor que educa, da mesma forma que o amor que perdoa promove o amor que salva.” (Joanna de Ângelis)

Número 23 - página 7

HUMOR


O passista falante


Alice era o que podemos chamar de passista dedicada. Tinha verdadeira adoração pela atividade do passe. Desde que começou a frequentar a Instituição, seu sonho fora se tornar "passista da Casa". Participou dos cursos, mostrou-se interessada e foi aceita como parte da equipe.
Ela havia aprendido, no curso, que muitas pessoas adquiriam determinados "cacoetes" desnecessários, e resolveu zelar desde o início de suas atividades para não incorrer em erro algum. Passou a observar as pessoas, com o intuito de aprender e evitar erros, e não, conforme dizia inicialmente, para comentar com os outros o que recolhia de informação. Começou, então, a preparar uma listagem das incoerências que via, catalogando cada tipo de passista de acordo com uma classificação toda sua.
Certo dia, estava na Sala de Passe, ouvindo a palestra, quando uma amiga sua, companheira no trabalho do passe, sentou-se ao seu lado. Começaram a conversar, apesar da palestra estar se desenvolvendo, e Alice começou a se empolgar, listando para a amiga os diversos tipos de passista que já havia registrado:
Passista aconselhador: aquele que insiste em dar conselhos para as pessoas no próprio salão. Interrompe a atividade, ou marca para depois uma conversa de esclarecimento. Este tipo de passista é parente do passista intuitivo.
Passista intuitivo: aquele que durante a aplicação do passe, "recebe" orientações acerca do problema da pessoa, indicando determinados cuidados. Em alguns casos, o procedimento do passista é discreto. Há outros, os passistas mais intuitivos, que chegam a assumir atitudes esdrúxulas como, por exemplo: se abaixar até o chão para aplicar o passe no pé do doente.
Passista farmacêutico: aquele que, apesar das orientações contrárias, insiste em recomendar algum tipo de medicamento, um chazinho, um cloreto de cálcio ou magnésio, uma barbatana de tubarão...
Passista ginasta: aquele que dá uma verdadeira aula de ginástica aeróbica. Ele se balança, gesticula violentamente, agita-se. Nos dias de extremo calor, termina suas atividades cansado e suado, dizendo: Puxa, como eu doei energia hoje! Este passista é primo do passista torturador.
Passista torturador: aquele que aplica o passe com movimentos velozes, próximos à orelha da pessoa. Ele faz com que a pessoa fique o tempo todo tensa, orando para que acabe o passe logo, antes de receber uma pancada na cabeça, tenha a orelha arrancada, ou até uma fratura no nariz.
Passista asmático: aquele que ao aplicar o passe, emite ruídos acentuados, aparentando dificuldade de respiração. Apresenta-se, às vezes, tão exagerado, que a pessoa que recebe o passe tem vontade de abaná-lo, ou chamar um médico.
Passista espanhol: aquele que insiste em ficar estalando os dedos. Parece até que utiliza castanholas pela altura do barulho que consegue fazer.
Passista chaminé: aquele que nem nos dias de trabalho consegue parar de fumar. Este tipo pode ser também chamado de passista hortelã, pois utiliza muitas balas para minimizar o hálito do tabaco.
Passista birita: aquele que não consegue ficar sem o uso da bebida. O passista birita apresenta, dependendo do grau de adiantamento do vício, muitas características interessantes que variam, desde o hálito "puro", até a dificuldade de se manter em pé.
Ia continuar sua lista quando uma velhinha que se encontrava próximo falou:
- Minha filha, coloca na tua lista o passista falante.
Alice, interessada, perguntou:
- E quais as características?
A velhinha, tranquila, disse:
- Conversar com seus amigos na Sala de Passe, sem se preocupar com a palestra em desenvolvimento, desrespeitando as pessoas interessadas em aprender.
Alice, envergonhada, desculpou-se, e anotou mais um tipo de passista na sua longa lista.

CURIOSIDADES


Convertido ao Espiritismo, o escritor Arthur Conan Doyle dedicou os últimos anos de sua vida à religião. Além de escrever em defesa da doutrina espírita, Conan Doyle dava palestras sobre o assunto. A conversão do criador de Sherlock Holmes foi motivada pela perda traumática de um parente querido.

Victor Hugo conheceu o Espiritismo na década de 1850. O escritor e poeta francês participou de sessões espíritas em que eram recebidas mensagens de pessoas famosas e personalidades da cultura como Moliére e Shakespeare. Mais tarde, Hugo escreveria o livro Conversando com a Eternidade, em que relata seu conhecimento e suas experiências no Espiritismo.

Ao perder a filha e a neta ainda muito jovens, Tarsila do Amaral, um ícone do modernismo brasileiro, foi buscar amparo no Espiritismo. A dor e a depressão causadas pela morte de ambas só foram vencidas graças ao apoio e as palavras de conforto do médium Chico Xavier.

A cantora Edith Piaf, eterno mito da música francesa, também se tornou adepta do Espiritismo pelo mesmo motivo: a perda de uma pessoa querida.

Um dos autores brasileiros psicografados por Chico Xavier foi Humberto de Campos. Foram 12 obras de contos e crônicas escritas em nome do escritor maranhense. O curioso é que a família de Humberto de Campos entrou com um processo contra a Federação Espírita Brasileira reivindicando direitos autorais das obras.

CHARGE


Número 23 - página 8


OPINIÃO

Animismo

Marco Antonio Silva Pinto
Expositor espírita


A questão “preocupante” do animismo, segundo se constata, é consequência direta da falta de estudo ou de melhor compreensão de seu conceito.
José Raul Teixeira, no livro Correnteza de Luz, ditado pelo Espírito Camilo, nos esclarece a respeito da existência de dois tipos de fenômenos psíquicos, patrimônio do ser humano: os anímicos — produzidos pelo Espírito do encarnado; e os mediúnicos — decorrentes da intervenção de Espíritos desencarnados, que utilizam um veículo ou instrumento humano (médium) para se manifestar.
Ampliando os conteúdos acima apresentados, extraímos da obra Animismo e Espiritismo, de Alexandre Aksakof uma proposta de classificação dos fenômenos anímicos em internos e externos.
Os fenômenos anímicos internos, também denominados de personismo ou manifestação do inconsciente, seriam aqueles que estariam relacionados com a intimidade do sensitivo, abrigando sob essa designação todos os produtos do inconsciente, que, sob determinadas circunstâncias, deságuam no consciente do médium, as sugestões arquivadas, os processos psicológicos das camadas internas da personalidade, as lembranças de outras vidas e os arquétipos.
Já os fenômenos anímicos externos relacionam-se com as ocorrências que transpõem os limites corporais do sensitivo. O sonho, o sonambulismo, a telepatia, o êxtase, a bicorporeidade, a dupla vista são exemplos que podemos citar de fenômenos anímicos dessa ordem, tão bem explicados no capitulo 8 da parte segunda de O Livro dos Espíritos.
Ocupar-nos-emos da primeira proposta de classificação ora apresentada, por estar esta mais diretamente relacionada ao estudo em questão.
À primeira vista os fenômenos anímicos podem ser facilmente confundidos com os de natureza mediúnica, uma vez que estes últimos trazem as impressões do medianeiro que os veicula. Segundo o Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capitulo intitulado Emersão do Passado, do livro Nos Domínios da Mediunidade, em todo e qualquer fenômeno mediúnico a presença do fator anímico é inevitável, pelo fato de o comunicante espiritual valer-se dos elementos biológicos, psicológicos e culturais do médium, para elaborar e exteriorizar a sua mensagem (...) Espera-se que a interferência anímica não ultrapasse as linhas do admissível, digamos do suportável. Cita ainda, na obra já mencionada: ... “Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria anímica num travão injustificável a lhes congelar preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras “mistificação inconsciente ou subconsciente” para batizar o fenômeno”. Refere-se o instrutor Áulus, nesta passagem, a uma senhora que, embora com as usuais características de uma incorporação obsessiva de espírito perseguidor, estava apenas deixando emergir do seu próprio inconsciente memórias desagradáveis de uma existência anterior que nem mesmo o choque biológico da nova encarnação conseguira “apagar”. Tratava-se de uma doente mental, cujos passados conflitos ainda a atormentavam e se exteriorizavam naquela torrente de palavras e gestos como se estivesse possuída por um espírito desarmonizado. No caso, havia, sim, um espírito em tais condições – o seu próprio que ali funcionava como médium de si mesma, produzindo manifestação anímica.  Mais que ignorância, seria crueldade deixar de socorrê-la com atenção e amor fraterno somente porque a manifestação era anímica.
Continua Áulus, mais adiante: ... “Um doutrinador sem tato fraterno apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno em vez de socorro providencial”.
Em Mecanismos da Mediunidade (cap. XXIII), encontramos observação semelhante, colocada nestes termos: “Frequentemente pessoas encarnadas nessa modalidade de provação regeneradora são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas sob o fascínio dos desencarnados que as subjugavam. (Xavier, Francisco C. / André Luiz, 1986.)
Lembra o autor espiritual, que se fôssemos levados, pelo processo da regressão da memória, a uma situação qualquer de uma vida anterior e lá deixados por algumas semanas, apresentaríamos o mesmo fenômeno de aparente alienação mental, complicada com características facilmente interpretadas como de possessão, pelo observador despreparado. Ou, então, a pessoa seria tida como mistificadora inconsciente. Em ambas as hipóteses, o diagnóstico estaria errado e, por conseguinte, também equivocada qualquer forma de tratamento proposto ou tentado.
Escreve ainda André Luiz: nenhuma justificativa existe para qualquer recusa no trato generoso de personalidades medianímicas provisoriamente estacionadas em semelhantes provações, de vez que são, em si próprias, espíritos sofredores ou conturbados quanto quaisquer outros que se manifestem, exigindo esclarecimento e socorro.
Em Obras Póstumas, no último parágrafo da mensagem “Controvérsias sobre a idéia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus”, Allan Kardec observa o seguinte: “A distinção entre o que, num dado efeito, é produto direto da alma do médium, e o que provém de uma fonte estranha [Espírito], às vezes, é muito difícil de ser feita, porque, muito freqüentemente, essas duas ações se confundem e se corroboram (...) Mas do fato de uma distinção ser difícil, não se segue que seja impossível”.
No item 3, do livro Mediunidade, Encontro com Divaldo, editado pela Mundo Maior Editora, encontramos excelente sugestão apresentada pelo orador quando de sua resposta sobre as questões envolvendo o conhecimento da mediunidade, que, muito ilustra os caminhos a serem percorridos pelos médiuns para diferenciar os seus dos conteúdos dos Espíritos que por ele se comunicam: (...) “Durante vários anos estive estudando o que seria a minha personalidade e a individualidade que sou (...) Comecei a estudar o meu sistema nervoso, a minha emotividade, as minhas preferências, aquilo que dizia respeita ao Eu que sou, e às circunstâncias que propiciavam o intercâmbio com a mediunidade”.
Esse proceder faculta ao médium uma educação moral e psíquica tal que lhe concede recursos hábeis para o intercâmbio mediúnico correto e seguro.
As fixações mentais, os conflitos e os hábitos psicológicos do individuo, que ressumam do seu inconsciente, durante o transe assumem com vigor os controles da faculdade mediúnica, segundo Philomeno de Miranda (Espírito), dando origem ás ocorrências anímicas; este fato fortalece as informações de André Luiz (Espírito), anteriormente citadas.
Cabe, portanto, a todo médium o esforço contínuo na busca do auto-conhecimento, de forma a diminuir gradualmente as cores anímicas de suas passividades, dedicando alguns minutos diários de sua existência ao exame continuo de seus problemas íntimos, aliado ao estudo doutrinário, de forma a discernir com acerto e atuar com segurança no desempenho das tarefas que lhes competem realizar.