“Tio Peixe” e a luta pelo Espiritismo em Serrinha
Margarida M. Cardoso e Silva Souza
Diretora-presidente
do Centro Espírita Deus, Cristo
e Caridade, de Serrinha-BA
(Texto
recolhido no blog “Memória
Espiritual”, de Fábio Pires)
Primeiro de novembro de 1920! Nas terras do Uauá, em
pleno sertão baiano castigado pela seca e pela escassez de recursos, nasce
Aristóteles Damasceno Peixinho, filho de Belarmino da Silva Peixinho e Adelaide
Damasceno Peixinho. De tez morena, olhar penetrante, cabelos pretos, testa
larga, mais parecia um Tibetano naquele rincão sertanejo. Aos seis anos de
idade, a mediunidade desponta com a vidência e a audiência, o que, naquela
época, constituía um fato singular. Cresce, em contato com os Espíritos,
aprendendo, desde cedo, a lidar com esse “mundo” de seres incorpóreos, com toda
a sua complexidade. Por forças das circunstâncias, e por que não dizer:
providenciais, a família transfere-se para Serrinha, Bahia.
O nosso biografado, com 23 anos de idade, agora
respirando outros ares, toma conhecimento de um movimento incipiente que alguns
interessados lideram. Eram os primeiros fenômenos mediúnicos que ali surgiam,
acordando a comunidade serrinhense para o Espiritismo. Portador de uma
mediunidade ostensiva, ingressa nesse movimento e, junto de outros, funda o
Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade, sob a égide dos Espíritos Irmão
Estrela, Vilas Boas e Marco Antônio, que orientam as bases legais e ensinam
como dirigir a instituição nascente. A partir daí, entrega a sua vida, numa
dedicação exclusiva, à Causa Espírita, buscando, sabiamente, conciliar as
responsabilidades da família constituída com as da sua crença.
As lutas enfrentadas para a instauração do
Espiritismo numa comunidade eminentemente católica, eram imensas! Todavia, seu
poder de liderança, sua figura carismática e a mediunidade a serviço do bem
foram ferramentas por ele utilizadas para a implantação das ideias espíritas,
difundido as sementes do Evangelho de Jesus no coração do povo serrinhense.
Junto a uma equipe de colaboradores, transformou o Centro Espírita Deus, Cristo
e Caridade em um polo estruturante que ampliou sua ação para as regiões
circunvizinhas, vindo a fundar 13 Instituições Espíritas, fruto da sua
perseverança e determinação. A partir de um encontro, pela vidência, com o
Espírito Madre Teresa de Calcutá, que o convida a vivenciar toda a teoria
espírita apreendida, desenvolve um trabalho de assistência social, voltado para
a promoção do homem, onde famílias numerosas foram agraciadas por recursos
materiais, na construção e reformas de casas para a população de baixa renda.
Ao lado da confreira Oliva A. Mendonça, já desencarnada,
funda a Associação Mansão Marco Antônio, de amparo à velhice, obra que se
mantém de pé com outros continuadores, incansáveis trabalhadores do bem. Foram
seis décadas de trabalhos ininterruptos, desde sua dedicação nas câmaras
mediúnicas como ser interexis-tencial, até o seu labor diário, contribuindo
para o bem-estar coletivo, numa entrega total e esquecimento de si mesmo. Os
que tiveram a graça de com ele partilhar as experiências numinosas levarão
consigo, como marcas indeléveis, a certeza da imortalidade e a segurança nos
princípios doutrinários, tocados que foram pelas clarinadas do Evangelho de
Jesus.
Como resumir em poucas linhas uma vida dedicada ao bem
coletivo que, aos noventa anos, volta à Pátria Espiritual como cidadão do
infinito, deixando impregnado nas almas o doce aroma do seu exemplo? A
Aristóteles, o nosso preito de profunda gratidão por sua presença entre nós!
Pelas experiências compartilhadas, pelas lágrimas secadas, pela consolação
prodigalizada. Parafraseando Winston Churchill, afirmamos: “Nunca tantos
deveram tanto a tão poucos!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário