segunda-feira, 22 de abril de 2013

Número 23 - página 3

MEMÓRIA


“Tio Peixe” e a luta pelo Espiritismo em Serrinha

Margarida M. Cardoso e Silva Souza
Diretora-presidente do Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade, de Serrinha-BA
(Texto recolhido no blog “Memória Espiritual”, de Fábio Pires)

Primeiro de novembro de 1920! Nas terras do Uauá, em pleno sertão baiano castigado pela seca e pela escassez de recursos, nasce Aristóteles Damasceno Peixinho, filho de Belarmino da Silva Peixinho e Adelaide Damasceno Peixinho. De tez morena, olhar penetrante, cabelos pretos, testa larga, mais parecia um Tibetano naquele rincão sertanejo. Aos seis anos de idade, a mediunidade desponta com a vidência e a audiência, o que, naquela época, constituía um fato singular. Cresce, em contato com os Espíritos, aprendendo, desde cedo, a lidar com esse “mundo” de seres incorpóreos, com toda a sua complexidade. Por forças das circunstâncias, e por que não dizer: providenciais, a família transfere-se para Serrinha, Bahia.
O nosso biografado, com 23 anos de idade, agora respirando outros ares, toma conhecimento de um movimento incipiente que alguns interessados lideram. Eram os primeiros fenômenos mediúnicos que ali surgiam, acordando a comunidade serrinhense para o Espiritismo. Portador de uma mediunidade ostensiva, ingressa nesse movimento e, junto de outros, funda o Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade, sob a égide dos Espíritos Irmão Estrela, Vilas Boas e Marco Antônio, que orientam as bases legais e ensinam como dirigir a instituição nascente. A partir daí, entrega a sua vida, numa dedicação exclusiva, à Causa Espírita, buscando, sabiamente, conciliar as responsabilidades da família constituída com as da sua crença.
As lutas enfrentadas para a instauração do Espiritismo numa comunidade eminentemente católica, eram imensas! Todavia, seu poder de liderança, sua figura carismática e a mediunidade a serviço do bem foram ferramentas por ele utilizadas para a implantação das ideias espíritas, difundido as sementes do Evangelho de Jesus no coração do povo serrinhense. Junto a uma equipe de colaboradores, transformou o Centro Espírita Deus, Cristo e Caridade em um polo estruturante que ampliou sua ação para as regiões circunvizinhas, vindo a fundar 13 Instituições Espíritas, fruto da sua perseverança e determinação. A partir de um encontro, pela vidência, com o Espírito Madre Teresa de Calcutá, que o convida a vivenciar toda a teoria espírita apreendida, desenvolve um trabalho de assistência social, voltado para a promoção do homem, onde famílias numerosas foram agraciadas por recursos materiais, na construção e reformas de casas para a população de baixa renda.
Ao lado da confreira Oliva A. Mendonça, já desencarnada, funda a Associação Mansão Marco Antônio, de amparo à velhice, obra que se mantém de pé com outros continuadores, incansáveis trabalhadores do bem. Foram seis décadas de trabalhos ininterruptos, desde sua dedicação nas câmaras mediúnicas como ser interexis-tencial, até o seu labor diário, contribuindo para o bem-estar coletivo, numa entrega total e esquecimento de si mesmo. Os que tiveram a graça de com ele partilhar as experiências numinosas levarão consigo, como marcas indeléveis, a certeza da imortalidade e a segurança nos princípios doutrinários, tocados que foram pelas clarinadas do Evangelho de Jesus.
Como resumir em poucas linhas uma vida dedicada ao bem coletivo que, aos noventa anos, volta à Pátria Espiritual como cidadão do infinito, deixando impregnado nas almas o doce aroma do seu exemplo? A Aristóteles, o nosso preito de profunda gratidão por sua presença entre nós! Pelas experiências compartilhadas, pelas lágrimas secadas, pela consolação prodigalizada. Parafraseando Winston Churchill, afirmamos: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos!”

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