segunda-feira, 22 de abril de 2013

Número 23 - página 8


OPINIÃO

Animismo

Marco Antonio Silva Pinto
Expositor espírita


A questão “preocupante” do animismo, segundo se constata, é consequência direta da falta de estudo ou de melhor compreensão de seu conceito.
José Raul Teixeira, no livro Correnteza de Luz, ditado pelo Espírito Camilo, nos esclarece a respeito da existência de dois tipos de fenômenos psíquicos, patrimônio do ser humano: os anímicos — produzidos pelo Espírito do encarnado; e os mediúnicos — decorrentes da intervenção de Espíritos desencarnados, que utilizam um veículo ou instrumento humano (médium) para se manifestar.
Ampliando os conteúdos acima apresentados, extraímos da obra Animismo e Espiritismo, de Alexandre Aksakof uma proposta de classificação dos fenômenos anímicos em internos e externos.
Os fenômenos anímicos internos, também denominados de personismo ou manifestação do inconsciente, seriam aqueles que estariam relacionados com a intimidade do sensitivo, abrigando sob essa designação todos os produtos do inconsciente, que, sob determinadas circunstâncias, deságuam no consciente do médium, as sugestões arquivadas, os processos psicológicos das camadas internas da personalidade, as lembranças de outras vidas e os arquétipos.
Já os fenômenos anímicos externos relacionam-se com as ocorrências que transpõem os limites corporais do sensitivo. O sonho, o sonambulismo, a telepatia, o êxtase, a bicorporeidade, a dupla vista são exemplos que podemos citar de fenômenos anímicos dessa ordem, tão bem explicados no capitulo 8 da parte segunda de O Livro dos Espíritos.
Ocupar-nos-emos da primeira proposta de classificação ora apresentada, por estar esta mais diretamente relacionada ao estudo em questão.
À primeira vista os fenômenos anímicos podem ser facilmente confundidos com os de natureza mediúnica, uma vez que estes últimos trazem as impressões do medianeiro que os veicula. Segundo o Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capitulo intitulado Emersão do Passado, do livro Nos Domínios da Mediunidade, em todo e qualquer fenômeno mediúnico a presença do fator anímico é inevitável, pelo fato de o comunicante espiritual valer-se dos elementos biológicos, psicológicos e culturais do médium, para elaborar e exteriorizar a sua mensagem (...) Espera-se que a interferência anímica não ultrapasse as linhas do admissível, digamos do suportável. Cita ainda, na obra já mencionada: ... “Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria anímica num travão injustificável a lhes congelar preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras “mistificação inconsciente ou subconsciente” para batizar o fenômeno”. Refere-se o instrutor Áulus, nesta passagem, a uma senhora que, embora com as usuais características de uma incorporação obsessiva de espírito perseguidor, estava apenas deixando emergir do seu próprio inconsciente memórias desagradáveis de uma existência anterior que nem mesmo o choque biológico da nova encarnação conseguira “apagar”. Tratava-se de uma doente mental, cujos passados conflitos ainda a atormentavam e se exteriorizavam naquela torrente de palavras e gestos como se estivesse possuída por um espírito desarmonizado. No caso, havia, sim, um espírito em tais condições – o seu próprio que ali funcionava como médium de si mesma, produzindo manifestação anímica.  Mais que ignorância, seria crueldade deixar de socorrê-la com atenção e amor fraterno somente porque a manifestação era anímica.
Continua Áulus, mais adiante: ... “Um doutrinador sem tato fraterno apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno em vez de socorro providencial”.
Em Mecanismos da Mediunidade (cap. XXIII), encontramos observação semelhante, colocada nestes termos: “Frequentemente pessoas encarnadas nessa modalidade de provação regeneradora são encontráveis nas reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras épocas sob o fascínio dos desencarnados que as subjugavam. (Xavier, Francisco C. / André Luiz, 1986.)
Lembra o autor espiritual, que se fôssemos levados, pelo processo da regressão da memória, a uma situação qualquer de uma vida anterior e lá deixados por algumas semanas, apresentaríamos o mesmo fenômeno de aparente alienação mental, complicada com características facilmente interpretadas como de possessão, pelo observador despreparado. Ou, então, a pessoa seria tida como mistificadora inconsciente. Em ambas as hipóteses, o diagnóstico estaria errado e, por conseguinte, também equivocada qualquer forma de tratamento proposto ou tentado.
Escreve ainda André Luiz: nenhuma justificativa existe para qualquer recusa no trato generoso de personalidades medianímicas provisoriamente estacionadas em semelhantes provações, de vez que são, em si próprias, espíritos sofredores ou conturbados quanto quaisquer outros que se manifestem, exigindo esclarecimento e socorro.
Em Obras Póstumas, no último parágrafo da mensagem “Controvérsias sobre a idéia da existência de seres intermediários entre o homem e Deus”, Allan Kardec observa o seguinte: “A distinção entre o que, num dado efeito, é produto direto da alma do médium, e o que provém de uma fonte estranha [Espírito], às vezes, é muito difícil de ser feita, porque, muito freqüentemente, essas duas ações se confundem e se corroboram (...) Mas do fato de uma distinção ser difícil, não se segue que seja impossível”.
No item 3, do livro Mediunidade, Encontro com Divaldo, editado pela Mundo Maior Editora, encontramos excelente sugestão apresentada pelo orador quando de sua resposta sobre as questões envolvendo o conhecimento da mediunidade, que, muito ilustra os caminhos a serem percorridos pelos médiuns para diferenciar os seus dos conteúdos dos Espíritos que por ele se comunicam: (...) “Durante vários anos estive estudando o que seria a minha personalidade e a individualidade que sou (...) Comecei a estudar o meu sistema nervoso, a minha emotividade, as minhas preferências, aquilo que dizia respeita ao Eu que sou, e às circunstâncias que propiciavam o intercâmbio com a mediunidade”.
Esse proceder faculta ao médium uma educação moral e psíquica tal que lhe concede recursos hábeis para o intercâmbio mediúnico correto e seguro.
As fixações mentais, os conflitos e os hábitos psicológicos do individuo, que ressumam do seu inconsciente, durante o transe assumem com vigor os controles da faculdade mediúnica, segundo Philomeno de Miranda (Espírito), dando origem ás ocorrências anímicas; este fato fortalece as informações de André Luiz (Espírito), anteriormente citadas.
Cabe, portanto, a todo médium o esforço contínuo na busca do auto-conhecimento, de forma a diminuir gradualmente as cores anímicas de suas passividades, dedicando alguns minutos diários de sua existência ao exame continuo de seus problemas íntimos, aliado ao estudo doutrinário, de forma a discernir com acerto e atuar com segurança no desempenho das tarefas que lhes competem realizar.

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