OPINIÃO
Animismo
Marco Antonio
Silva Pinto
Expositor espírita
A questão “preocupante” do animismo, segundo se constata, é
consequência direta da falta de estudo ou de melhor compreensão de seu
conceito.
José Raul Teixeira, no livro Correnteza de Luz, ditado
pelo Espírito Camilo, nos esclarece a respeito da existência de dois tipos de
fenômenos psíquicos, patrimônio do ser humano: os anímicos — produzidos pelo
Espírito do encarnado; e os mediúnicos — decorrentes da intervenção de
Espíritos desencarnados, que utilizam um veículo ou instrumento humano (médium)
para se manifestar.
Ampliando os conteúdos acima apresentados, extraímos da obra Animismo e Espiritismo, de Alexandre Aksakof uma proposta de classificação
dos fenômenos anímicos em internos e externos.
Os fenômenos anímicos internos, também denominados de
personismo ou manifestação do inconsciente, seriam aqueles que estariam
relacionados com a intimidade do sensitivo, abrigando sob essa designação todos
os produtos do inconsciente, que, sob determinadas circunstâncias, deságuam no
consciente do médium, as sugestões arquivadas, os processos psicológicos das
camadas internas da personalidade, as lembranças de outras vidas e os
arquétipos.
Já os fenômenos anímicos externos relacionam-se com as
ocorrências que transpõem os limites corporais do sensitivo. O sonho, o
sonambulismo, a telepatia, o êxtase, a bicorporeidade, a dupla vista são
exemplos que podemos citar de fenômenos anímicos dessa ordem, tão bem
explicados no capitulo 8 da parte segunda de O Livro dos Espíritos.
Ocupar-nos-emos da primeira proposta de classificação ora
apresentada, por estar esta mais diretamente relacionada ao estudo em questão.
À primeira vista
os fenômenos anímicos podem ser facilmente confundidos com os de natureza
mediúnica, uma vez que estes últimos trazem as impressões do medianeiro que os
veicula. Segundo o Espírito André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido
Xavier, no capitulo intitulado Emersão do Passado, do livro Nos Domínios da Mediunidade, em todo
e qualquer fenômeno mediúnico a presença do fator anímico é inevitável, pelo
fato de o comunicante espiritual valer-se dos elementos biológicos,
psicológicos e culturais do médium, para elaborar e exteriorizar a sua mensagem
(...) Espera-se que a
interferência anímica não ultrapasse as linhas do admissível, digamos do
suportável. Cita ainda, na obra já mencionada: ... “Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação
da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria anímica num
travão injustificável a lhes congelar preciosas oportunidades de realização do
bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras “mistificação
inconsciente ou subconsciente” para batizar o fenômeno”. Refere-se o
instrutor Áulus, nesta passagem, a uma senhora que, embora com as usuais
características de uma incorporação obsessiva de espírito perseguidor, estava
apenas deixando emergir do seu próprio inconsciente memórias desagradáveis de
uma existência anterior que nem mesmo o choque biológico da nova encarnação
conseguira “apagar”. Tratava-se de uma doente mental, cujos passados conflitos
ainda a atormentavam e se exteriorizavam naquela torrente de palavras e gestos
como se estivesse possuída por um espírito desarmonizado. No caso, havia, sim,
um espírito em tais condições – o seu próprio que ali funcionava como médium de
si mesma, produzindo manifestação anímica.
Mais que ignorância, seria crueldade deixar de socorrê-la com atenção e amor
fraterno somente porque a manifestação era anímica.
Continua Áulus, mais adiante: ... “Um doutrinador sem tato
fraterno apenas lhe agravaria o problema, porque, a pretexto de servir à
verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno em vez de socorro
providencial”.
Em Mecanismos da Mediunidade (cap. XXIII), encontramos
observação semelhante, colocada nestes termos: “Frequentemente pessoas
encarnadas nessa modalidade de provação regeneradora são encontráveis nas
reuniões mediúnicas, mergulhadas nos mais complexos estados emotivos, quais se
personificassem entidades outras, quando, na realidade, exprimem a si mesmas, a
emergirem da subconsciência nos trajes mentais em que se externavam noutras
épocas sob o fascínio dos desencarnados que as subjugavam. (Xavier, Francisco
C. / André Luiz, 1986.)
Lembra o autor espiritual, que se fôssemos levados, pelo
processo da regressão da memória, a uma situação qualquer de uma vida anterior
e lá deixados por algumas semanas, apresentaríamos o mesmo fenômeno de aparente
alienação mental, complicada com características facilmente interpretadas como
de possessão, pelo observador despreparado. Ou, então, a pessoa seria tida como
mistificadora inconsciente. Em ambas as hipóteses, o diagnóstico estaria errado
e, por conseguinte, também equivocada qualquer forma de tratamento proposto ou
tentado.
Escreve ainda André Luiz:
nenhuma justificativa existe para qualquer recusa no trato generoso de
personalidades medianímicas provisoriamente estacionadas em semelhantes
provações, de vez que são, em si próprias, espíritos sofredores ou conturbados
quanto quaisquer outros que se manifestem, exigindo esclarecimento e socorro.
Em Obras Póstumas, no último parágrafo da mensagem “Controvérsias sobre a idéia da existência de
seres intermediários entre o homem e Deus”,
Allan Kardec observa o seguinte: “A distinção entre o que, num dado
efeito, é produto direto da alma do médium, e o que provém de uma fonte
estranha [Espírito], às vezes, é muito difícil de ser feita, porque, muito
freqüentemente, essas duas ações se confundem e se corroboram (...) Mas do fato de uma distinção ser
difícil, não se segue que seja impossível”.
No item 3, do livro Mediunidade, Encontro com Divaldo, editado
pela Mundo Maior Editora, encontramos excelente sugestão apresentada pelo
orador quando de sua resposta sobre as questões envolvendo o conhecimento da
mediunidade, que, muito ilustra os caminhos a serem percorridos pelos médiuns
para diferenciar os seus dos conteúdos dos Espíritos que por ele se comunicam:
(...) “Durante vários anos
estive estudando o que seria a minha personalidade e a individualidade que sou
(...) Comecei a estudar o meu sistema nervoso, a minha emotividade, as minhas
preferências, aquilo que dizia respeita ao Eu que sou, e às circunstâncias que
propiciavam o intercâmbio com a mediunidade”.
Esse proceder faculta ao médium uma
educação moral e psíquica tal que lhe concede recursos hábeis para o
intercâmbio mediúnico correto e seguro.
As fixações mentais, os conflitos e
os hábitos psicológicos do individuo, que ressumam do seu inconsciente, durante
o transe assumem com vigor os controles da faculdade mediúnica, segundo
Philomeno de Miranda (Espírito), dando origem ás ocorrências anímicas; este
fato fortalece as informações de André Luiz (Espírito), anteriormente citadas.
Cabe, portanto, a todo médium o
esforço contínuo na busca do auto-conhecimento, de forma a diminuir
gradualmente as cores anímicas de suas passividades, dedicando alguns minutos
diários de sua existência ao exame continuo de seus problemas íntimos, aliado
ao estudo doutrinário, de forma a discernir com acerto e atuar com segurança no
desempenho das tarefas que lhes competem realizar.
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