O passista falante
Alice era o que podemos
chamar de passista dedicada. Tinha verdadeira adoração pela atividade do passe.
Desde que começou a frequentar a Instituição, seu sonho fora se tornar
"passista da Casa". Participou dos cursos, mostrou-se interessada e
foi aceita como parte da equipe.
Ela havia aprendido, no
curso, que muitas pessoas adquiriam determinados "cacoetes"
desnecessários, e resolveu zelar desde o início de suas atividades para não
incorrer em erro algum. Passou a observar as pessoas, com o intuito de aprender
e evitar erros, e não, conforme dizia inicialmente, para comentar com os outros
o que recolhia de informação. Começou, então, a preparar uma listagem das
incoerências que via, catalogando cada tipo de passista de acordo com uma
classificação toda sua.
Certo dia, estava na
Sala de Passe, ouvindo a palestra, quando uma amiga sua, companheira no
trabalho do passe, sentou-se ao seu lado. Começaram a conversar, apesar da
palestra estar se desenvolvendo, e Alice começou a se empolgar, listando para a
amiga os diversos tipos de passista que já havia registrado:
Passista aconselhador: aquele que insiste em dar conselhos para as
pessoas no próprio salão. Interrompe a atividade, ou marca para depois uma
conversa de esclarecimento. Este tipo de passista é parente do passista
intuitivo.
Passista intuitivo: aquele que durante a aplicação do passe,
"recebe" orientações acerca do problema da pessoa, indicando
determinados cuidados. Em alguns casos, o procedimento do passista é discreto.
Há outros, os passistas mais intuitivos, que chegam a assumir atitudes
esdrúxulas como, por exemplo: se abaixar até o chão para aplicar o passe no pé
do doente.
Passista farmacêutico: aquele que, apesar das orientações
contrárias, insiste em recomendar algum tipo de medicamento, um chazinho, um
cloreto de cálcio ou magnésio, uma barbatana de tubarão...
Passista ginasta: aquele que dá uma verdadeira aula de ginástica
aeróbica. Ele se balança, gesticula violentamente, agita-se. Nos dias de
extremo calor, termina suas atividades cansado e suado, dizendo: Puxa, como eu
doei energia hoje! Este passista é primo do passista torturador.
Passista torturador: aquele que aplica o passe com movimentos
velozes, próximos à orelha da pessoa. Ele faz com que a pessoa fique o tempo
todo tensa, orando para que acabe o passe logo, antes de receber uma pancada na
cabeça, tenha a orelha arrancada, ou até uma fratura no nariz.
Passista asmático: aquele que ao aplicar o passe, emite ruídos
acentuados, aparentando dificuldade de respiração. Apresenta-se, às vezes, tão
exagerado, que a pessoa que recebe o passe tem vontade de abaná-lo, ou chamar
um médico.
Passista espanhol: aquele que insiste em ficar estalando os dedos.
Parece até que utiliza castanholas pela altura do barulho que consegue fazer.
Passista chaminé: aquele que nem nos dias de trabalho consegue
parar de fumar. Este tipo pode ser também chamado de passista hortelã, pois
utiliza muitas balas para minimizar o hálito do tabaco.
Passista birita: aquele que não consegue ficar sem o uso da
bebida. O passista birita apresenta, dependendo do grau de adiantamento do
vício, muitas características interessantes que variam, desde o hálito
"puro", até a dificuldade de se manter em pé.
Ia continuar sua lista
quando uma velhinha que se encontrava próximo falou:
- Minha filha, coloca na
tua lista o passista falante.
Alice, interessada,
perguntou:
- E quais as
características?
A velhinha, tranquila,
disse:
- Conversar com seus
amigos na Sala de Passe, sem se preocupar com a palestra em desenvolvimento,
desrespeitando as pessoas interessadas em aprender.
Alice, envergonhada, desculpou-se, e anotou mais um tipo de
passista na sua longa lista.
CURIOSIDADES
CURIOSIDADES
Convertido ao Espiritismo, o escritor
Arthur Conan Doyle dedicou os últimos anos de sua vida à religião. Além de
escrever em defesa da doutrina espírita, Conan Doyle dava palestras sobre o
assunto. A conversão do criador de Sherlock Holmes foi motivada pela perda
traumática de um parente querido.
Victor Hugo conheceu o Espiritismo na
década de 1850. O escritor e poeta francês participou de sessões espíritas em
que eram recebidas mensagens de pessoas famosas e personalidades da cultura
como Moliére e Shakespeare. Mais tarde, Hugo escreveria o livro Conversando com
a Eternidade, em que relata seu conhecimento e suas experiências no
Espiritismo.
Ao perder a filha e a neta ainda muito
jovens, Tarsila do Amaral, um ícone do modernismo brasileiro, foi buscar amparo
no Espiritismo. A dor e a depressão causadas pela morte de ambas só foram
vencidas graças ao apoio e as palavras de conforto do médium Chico Xavier.
A cantora Edith Piaf, eterno mito da
música francesa, também se tornou adepta do Espiritismo pelo mesmo motivo: a
perda de uma pessoa querida.
Um dos
autores brasileiros psicografados por Chico Xavier foi Humberto de Campos.
Foram 12 obras de contos e crônicas escritas em nome do escritor maranhense. O
curioso é que a família de Humberto de Campos entrou com um processo contra a
Federação Espírita Brasileira reivindicando direitos autorais das obras.
CHARGE
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