segunda-feira, 22 de abril de 2013

Número 23 - página 7

HUMOR


O passista falante


Alice era o que podemos chamar de passista dedicada. Tinha verdadeira adoração pela atividade do passe. Desde que começou a frequentar a Instituição, seu sonho fora se tornar "passista da Casa". Participou dos cursos, mostrou-se interessada e foi aceita como parte da equipe.
Ela havia aprendido, no curso, que muitas pessoas adquiriam determinados "cacoetes" desnecessários, e resolveu zelar desde o início de suas atividades para não incorrer em erro algum. Passou a observar as pessoas, com o intuito de aprender e evitar erros, e não, conforme dizia inicialmente, para comentar com os outros o que recolhia de informação. Começou, então, a preparar uma listagem das incoerências que via, catalogando cada tipo de passista de acordo com uma classificação toda sua.
Certo dia, estava na Sala de Passe, ouvindo a palestra, quando uma amiga sua, companheira no trabalho do passe, sentou-se ao seu lado. Começaram a conversar, apesar da palestra estar se desenvolvendo, e Alice começou a se empolgar, listando para a amiga os diversos tipos de passista que já havia registrado:
Passista aconselhador: aquele que insiste em dar conselhos para as pessoas no próprio salão. Interrompe a atividade, ou marca para depois uma conversa de esclarecimento. Este tipo de passista é parente do passista intuitivo.
Passista intuitivo: aquele que durante a aplicação do passe, "recebe" orientações acerca do problema da pessoa, indicando determinados cuidados. Em alguns casos, o procedimento do passista é discreto. Há outros, os passistas mais intuitivos, que chegam a assumir atitudes esdrúxulas como, por exemplo: se abaixar até o chão para aplicar o passe no pé do doente.
Passista farmacêutico: aquele que, apesar das orientações contrárias, insiste em recomendar algum tipo de medicamento, um chazinho, um cloreto de cálcio ou magnésio, uma barbatana de tubarão...
Passista ginasta: aquele que dá uma verdadeira aula de ginástica aeróbica. Ele se balança, gesticula violentamente, agita-se. Nos dias de extremo calor, termina suas atividades cansado e suado, dizendo: Puxa, como eu doei energia hoje! Este passista é primo do passista torturador.
Passista torturador: aquele que aplica o passe com movimentos velozes, próximos à orelha da pessoa. Ele faz com que a pessoa fique o tempo todo tensa, orando para que acabe o passe logo, antes de receber uma pancada na cabeça, tenha a orelha arrancada, ou até uma fratura no nariz.
Passista asmático: aquele que ao aplicar o passe, emite ruídos acentuados, aparentando dificuldade de respiração. Apresenta-se, às vezes, tão exagerado, que a pessoa que recebe o passe tem vontade de abaná-lo, ou chamar um médico.
Passista espanhol: aquele que insiste em ficar estalando os dedos. Parece até que utiliza castanholas pela altura do barulho que consegue fazer.
Passista chaminé: aquele que nem nos dias de trabalho consegue parar de fumar. Este tipo pode ser também chamado de passista hortelã, pois utiliza muitas balas para minimizar o hálito do tabaco.
Passista birita: aquele que não consegue ficar sem o uso da bebida. O passista birita apresenta, dependendo do grau de adiantamento do vício, muitas características interessantes que variam, desde o hálito "puro", até a dificuldade de se manter em pé.
Ia continuar sua lista quando uma velhinha que se encontrava próximo falou:
- Minha filha, coloca na tua lista o passista falante.
Alice, interessada, perguntou:
- E quais as características?
A velhinha, tranquila, disse:
- Conversar com seus amigos na Sala de Passe, sem se preocupar com a palestra em desenvolvimento, desrespeitando as pessoas interessadas em aprender.
Alice, envergonhada, desculpou-se, e anotou mais um tipo de passista na sua longa lista.

CURIOSIDADES


Convertido ao Espiritismo, o escritor Arthur Conan Doyle dedicou os últimos anos de sua vida à religião. Além de escrever em defesa da doutrina espírita, Conan Doyle dava palestras sobre o assunto. A conversão do criador de Sherlock Holmes foi motivada pela perda traumática de um parente querido.

Victor Hugo conheceu o Espiritismo na década de 1850. O escritor e poeta francês participou de sessões espíritas em que eram recebidas mensagens de pessoas famosas e personalidades da cultura como Moliére e Shakespeare. Mais tarde, Hugo escreveria o livro Conversando com a Eternidade, em que relata seu conhecimento e suas experiências no Espiritismo.

Ao perder a filha e a neta ainda muito jovens, Tarsila do Amaral, um ícone do modernismo brasileiro, foi buscar amparo no Espiritismo. A dor e a depressão causadas pela morte de ambas só foram vencidas graças ao apoio e as palavras de conforto do médium Chico Xavier.

A cantora Edith Piaf, eterno mito da música francesa, também se tornou adepta do Espiritismo pelo mesmo motivo: a perda de uma pessoa querida.

Um dos autores brasileiros psicografados por Chico Xavier foi Humberto de Campos. Foram 12 obras de contos e crônicas escritas em nome do escritor maranhense. O curioso é que a família de Humberto de Campos entrou com um processo contra a Federação Espírita Brasileira reivindicando direitos autorais das obras.

CHARGE


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