Opinião
Atualizar para progredir!
Ivan Cezar - Expositor e administrador de empresas, diretor doutrinário do C. E. Lar João Batista
Apesar de parecer existir uma espécie de movimentação onde alguns de nós - poucos, é verdade - que nos autodenominamos “estudiosos”, clamam por uma atualização literária das obras básicas do Espiritismo, coisa que acreditamos ser desnecessária pelo fato de a maior parte dos espíritas ainda não ter conseguido esgotar os estudos dessas obras, e ainda que o título do artigo possa induzir o leitor mais apressado a uma interpretação errônea, não trataremos aqui desse assunto polêmico. A intenção é discutir uma necessária atualização na comunicação, na forma de transmitir os ensinamentos da Doutrina.
Através de uma verificação mais apurada ou mesmo numa lembrança um pouco mais aguçada das obras da codificação kardequiana, teremos a oportunidade de relembrar uma questão importante trazida pelo professor Rivail quando nos orienta sobre o caráter progressista da Doutrina Espírita afirmando, inclusive, em “A Gênese”(1), que “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto”. Razão mais do que suficiente para que possamos, de tempos em tempos revisar, cuidadosamente, o que estamos falando, escrevendo ou divulgando, em nome da Doutrina, nas nossas atividades diárias, seja na casa espírita ou na sociedade de modo geral.
Alguns de nós, dirigentes, palestrantes, oradores, doutrinadores parecemos estar aprisionados num passado que já não é mais condizente com os dias atuais, fazendo com que sejam repetidos, de forma sistemática, quase antiquada, os conteúdos que aprendemos nas obras basilares, mas que devem passar por uma releitura do conteúdo e principalmente, para os que têm a responsabilidade de divulgação do Espiritismo através da apresentação de trabalhos orais ou escritos, da linguagem.
A administração moderna, através da gestão de pessoas, vem estudando o conflito de gerações que caracteriza os ambientes profissionais de hoje, demonstrando como essas diferenças podem trazer entraves à compreensão das mensagens e das atitudes que precisam ser tomadas em cada situação. Parece que essa “epidemia” vem tomando conta dos discursos espíritas.
Verificamos trabalhos com uma linguagem predominantemente voltada aos tempos passados, ao século XIX, quando foram lançadas as obras do Pentateuco espírita. Vocabulário pouco atraente e com uma rigidez flagrante da linguagem oral, deixando patente uma maior preocupação com a forma. A questão principal não é o conteúdo, mas a maneira de apresentação deste.
Já nos perguntamos os motivos que levam as casas espíritas a ter dificuldades com a formação e a manutenção dos grupos de jovens? Aquelas que conseguem, por que conseguem? Será que isso não passa pela maneira de dirigir o discurso ao jovem? Será que não estamos tentando disfarçar o nosso egoísmo em não aceitar as atualizações que se fazem necessárias na caminhada rumo ao progresso? “Eu sou ótimo no que faço e não preciso de atualização.” Será que não estamos pensando dessa forma por pura vaidade, criando gargalos na progressão do pensamento espírita?
Utilizamos o “Vossa Mercê” ou o “você”? Não seria isso uma atualização? Como podemos reter a atenção das pessoas se continuamos com aquela velha forma de discurso onde o “eu falo, você escuta” é predominante? Como podemos permitir que uma pessoa que trabalha o dia inteiro e vai ao Centro assistir uma doutrinária noturna caia, literalmente, no sono durante uma apresentação e dizer que o “obsessor” não quer que ela escute? Será que não está na hora de encontrarmos uma didática diferente daquela que temos utilizado?
Povo de Deus, por favor, vamos adentrar de uma vez por todas o século XXI! Já viram os trabalhos de Divaldo Franco? Mantendo as suas convicções, fruto de um período grande de estudos e aprendizado através das suas vivências, tem trazido o lúdico às suas palestras, interagindo com as pessoas através dos seus “causos” e fazendo com que estejamos atentos o tempo todo ao que se fala. E olhe que Divaldo já passou dos 30 há algum tempo! É somente um exemplo de vários outros que poderíamos citar para embasar o título deste artigo.
Parece que, com o passar do tempo, há uma tendência a nos fecharmos no nosso mundo, restrito ao nosso pequeno aprendizado, deixando de vivenciar as novidades que surgem bem debaixo do nosso nariz.
Em “O Livro dos Médiuns” não nos recordamos de citação alguma aos fenômenos de Transcomunicação Instrumental (TCI), apesar de constar em “O Livro dos Espíritos” que “no futuro teríamos acesso a meios mais diretos e mais acessíveis à comunicação com os Espíritos”(2). Sabemos disso. Não poderia ser diferente, já que tal fenomenologia só surgiu no meado do século seguinte. Nem por isso deixamos de estudar o fato nos dias de hoje. Quem tem olhos que enxergue!
Acreditem ou não, nenhum de nós ficará para semente. Se tivermos a intenção de fazer com que as ideias espíritas sigam através dos tempos, vamos auxiliar a Espiritualidade nesse sentido. Buscar uma comunicação de forma mais clara, objetiva, interativa, didática, lúdica. Esta parece ser uma estratégia bastante interessante e condizente com o caráter de progresso e evolução citado pelo ilustre Allan Kardec.
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(1) Capítulo “Caráter da Revelação Espírita”. Item 55
(2) Resposta dada a Kardec na questão 934 de “O Livro dos Espíritos”
Atualizar para progredir!
Ivan Cezar - Expositor e administrador de empresas, diretor doutrinário do C. E. Lar João Batista
Apesar de parecer existir uma espécie de movimentação onde alguns de nós - poucos, é verdade - que nos autodenominamos “estudiosos”, clamam por uma atualização literária das obras básicas do Espiritismo, coisa que acreditamos ser desnecessária pelo fato de a maior parte dos espíritas ainda não ter conseguido esgotar os estudos dessas obras, e ainda que o título do artigo possa induzir o leitor mais apressado a uma interpretação errônea, não trataremos aqui desse assunto polêmico. A intenção é discutir uma necessária atualização na comunicação, na forma de transmitir os ensinamentos da Doutrina.
Através de uma verificação mais apurada ou mesmo numa lembrança um pouco mais aguçada das obras da codificação kardequiana, teremos a oportunidade de relembrar uma questão importante trazida pelo professor Rivail quando nos orienta sobre o caráter progressista da Doutrina Espírita afirmando, inclusive, em “A Gênese”(1), que “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto”. Razão mais do que suficiente para que possamos, de tempos em tempos revisar, cuidadosamente, o que estamos falando, escrevendo ou divulgando, em nome da Doutrina, nas nossas atividades diárias, seja na casa espírita ou na sociedade de modo geral.
Alguns de nós, dirigentes, palestrantes, oradores, doutrinadores parecemos estar aprisionados num passado que já não é mais condizente com os dias atuais, fazendo com que sejam repetidos, de forma sistemática, quase antiquada, os conteúdos que aprendemos nas obras basilares, mas que devem passar por uma releitura do conteúdo e principalmente, para os que têm a responsabilidade de divulgação do Espiritismo através da apresentação de trabalhos orais ou escritos, da linguagem.
A administração moderna, através da gestão de pessoas, vem estudando o conflito de gerações que caracteriza os ambientes profissionais de hoje, demonstrando como essas diferenças podem trazer entraves à compreensão das mensagens e das atitudes que precisam ser tomadas em cada situação. Parece que essa “epidemia” vem tomando conta dos discursos espíritas.
Verificamos trabalhos com uma linguagem predominantemente voltada aos tempos passados, ao século XIX, quando foram lançadas as obras do Pentateuco espírita. Vocabulário pouco atraente e com uma rigidez flagrante da linguagem oral, deixando patente uma maior preocupação com a forma. A questão principal não é o conteúdo, mas a maneira de apresentação deste.
Já nos perguntamos os motivos que levam as casas espíritas a ter dificuldades com a formação e a manutenção dos grupos de jovens? Aquelas que conseguem, por que conseguem? Será que isso não passa pela maneira de dirigir o discurso ao jovem? Será que não estamos tentando disfarçar o nosso egoísmo em não aceitar as atualizações que se fazem necessárias na caminhada rumo ao progresso? “Eu sou ótimo no que faço e não preciso de atualização.” Será que não estamos pensando dessa forma por pura vaidade, criando gargalos na progressão do pensamento espírita?
Utilizamos o “Vossa Mercê” ou o “você”? Não seria isso uma atualização? Como podemos reter a atenção das pessoas se continuamos com aquela velha forma de discurso onde o “eu falo, você escuta” é predominante? Como podemos permitir que uma pessoa que trabalha o dia inteiro e vai ao Centro assistir uma doutrinária noturna caia, literalmente, no sono durante uma apresentação e dizer que o “obsessor” não quer que ela escute? Será que não está na hora de encontrarmos uma didática diferente daquela que temos utilizado?
Povo de Deus, por favor, vamos adentrar de uma vez por todas o século XXI! Já viram os trabalhos de Divaldo Franco? Mantendo as suas convicções, fruto de um período grande de estudos e aprendizado através das suas vivências, tem trazido o lúdico às suas palestras, interagindo com as pessoas através dos seus “causos” e fazendo com que estejamos atentos o tempo todo ao que se fala. E olhe que Divaldo já passou dos 30 há algum tempo! É somente um exemplo de vários outros que poderíamos citar para embasar o título deste artigo.
Parece que, com o passar do tempo, há uma tendência a nos fecharmos no nosso mundo, restrito ao nosso pequeno aprendizado, deixando de vivenciar as novidades que surgem bem debaixo do nosso nariz.
Em “O Livro dos Médiuns” não nos recordamos de citação alguma aos fenômenos de Transcomunicação Instrumental (TCI), apesar de constar em “O Livro dos Espíritos” que “no futuro teríamos acesso a meios mais diretos e mais acessíveis à comunicação com os Espíritos”(2). Sabemos disso. Não poderia ser diferente, já que tal fenomenologia só surgiu no meado do século seguinte. Nem por isso deixamos de estudar o fato nos dias de hoje. Quem tem olhos que enxergue!
Acreditem ou não, nenhum de nós ficará para semente. Se tivermos a intenção de fazer com que as ideias espíritas sigam através dos tempos, vamos auxiliar a Espiritualidade nesse sentido. Buscar uma comunicação de forma mais clara, objetiva, interativa, didática, lúdica. Esta parece ser uma estratégia bastante interessante e condizente com o caráter de progresso e evolução citado pelo ilustre Allan Kardec.
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(1) Capítulo “Caráter da Revelação Espírita”. Item 55
(2) Resposta dada a Kardec na questão 934 de “O Livro dos Espíritos”
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