segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Número 24 - capa

EDITORIAL

A vontade de Deus
Francisco Muniz
Coeditor

Diz velho rifão da sabedoria popular que “Deus põe e o homem dispõe”. Ou seja, tudo decorre, em nosso meio, a realidade terrena, ou humana, de acordo com os ditames das leis sábias da Providência Divina. Dizemos isso numa tentativa de justificar a quebra da periodicidade de nosso jornal, que somente agora chega às mãos dos leitores.
Essa interrupção, que esperamos não mais se dê, aconteceu por conta de muitos fatores que o mais minucioso planejamento tomará por imprevistos, alheios, portanto, ao nosso desejo, à nossa mais sincera intenção de oferecer um produto correspondente ao que estabelecemos inicialmente como linha condutora de nossas realizações, em respeito ao interesse dos leitores e a nosso compromisso nesse sentido.
Mas eis que retornamos, com uma edição que pretende compensar o longo intervalo desde o último número, trazendo assuntos atuais e convidando o leitor a profundas reflexões acerca do Movimento Espírita como um todo e às necessidades evolutivas concernentes a cada indivíduo.
Nesse aspecto, tornamos este presente trabalho uma mais que devida homenagem ao empenho da jornalista Angélica Santos e ao de seus colaboradores do C. E. Lar João Batista, que ela administra sob as bênçãos de Deus e com a confiança dos Amigos do Bem que em nome do Cristo colaboram para o aprimoramento das criaturas e das instituições voltadas para a promoção e dignificação dos homens.

Ao trabalho, portanto, e boa leitura a todos.

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NESTA EDIÇÃO

O XV Congresso Espírita do Estado da Bahia, marcado para o início do mês de novembro deste ano, vai discutir a temática “O viver espírita na sociedade”. Artigo de André Luiz Peixinho delineia a proposição. Página 8

O maior médium espírita que o mundo já conheceu, o mineiro Francisco Cândido Xavier, é lembrado pelo Movimento Espírita brasileiro pela passagem do 11.° ano de sua desencarnação. Página 3

Atual presidente do Grêmio Espírita Perseverança e Caridade (GPEC), na Graça, Antonio Carlos Couto Carahy fala, em entrevista, como se tornou espírita. Página 4

Você sabia que o Código Penal Brasileiro de 1890 classificava o Espiritismo como atividade criminosa? Esta e outras curiosidades estão na Página 7.

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HOMENAGEM

“Aos outros dou o direito de serem como querem; a mim, como devo ser.” 
Francisco (Chico) Cândido Xavier 
(1910-2002)



Número 24 - página 2

MOVIMENTO

SOS Preces oferece curso para plantonistas

Com início da primeira etapa prevista para o dia 1 de junho, o serviço SOS Preces realiza curso para plantonistas, qualificando os voluntários anônimos interessados em oferecer ouvidos para um desabafo e a voz para emitir conforto aos necessitados. As aulas são realizadas aos sábados, das 10 às 12h, nas instalações do Instituto Kardecista da Bahia (IKB), no Pelourinho (Rua João de Deus, 6), onde são feitas as inscrições, também realizadas por telefone: (71) 3321-3042 (IKB) e (71)3322-4088 (SOS Preces), devendo o interessado deixar nome e telefone para futuro contato. Ainda, pelo e-mail institutokardecista@gmail.com os candidatos ao curso podem solicitar a ficha de inscrição.
Para participar do curso, é importante que o candidato cumpra os seguintes requisitos: idade mínima de 21 anos; conhecimento da Doutrina Espírita; participe de grupo de estudo e/ou grupo mediúnico; participe de um Centro Espírita por pelo menos dois anos; tenha interesse em ajudar e ajudar-se; tenha equilíbrio emocional; tenha disposição para ouvir através do telefone; saiba engajar-se com responsabilidade, respeitando dias e horários combinados; e participe de reuniões e treinamentos, lembrando que só a boa vontade não garante a qualidade do trabalho.

Hermínio Miranda desencarna

Retornou a pátria espiritual, aos 93 anos, em 8 de julho de 2013, no Rio de Janeiro, onde vivia, Hermínio Corrêa de Miranda, um dos principais pesquisadores e escritores espíritas da atualidade.
Hermínio é autor de cerca de 40 livros, dentre eles, diversos clássicos da literatura espírita, como “Diálogo com as sombras”, “Diversidade dos carismas” e “Nossos filhos são espíritos”. Os direitos autorais de suas obras foram sempre cedidos a instituições filantrópicas.

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CURTAS

Parceria entre a Casa de Oração Francisco de Assis (COFA), a Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) e o Centro Espírita Deus, Luz e Verdade (CEDLV) realiza no dia 11 de setembro, no auditório do CEDLV, um concerto do pianista paraibano Sibélius Donato Tenório, considerado pelo médium Chico Xavier como a reencarnação do compositor finlandês Johan Julius Sibelius.

Com vistas à comemoração de mais um aniversário de fundação, a transcorrer no dia 12 de novembro, a Casa de Oração Bezerra de Menezes (Cobem) está documentando em vídeo, através de sua Assessoria de Comunicação, parte da história e da vida dessa importante instituição espírita, criada pela médium Noélia Duarte em 1968.

Localizado em São Caetano (3a.Travessa Wilson Teixeira, 36 – Boa Vista), o Centro de Cultura Espírita Luz da Manhã, dirigido por Cleonice Pinheiro, realizará no dia 6 de outubro o seminário comemorativo do oitavo ano de funcionamento da instituição. A atividade, sob o tema “Terra: a vinha do Senhor”, será ministrada pelos expositores José Alonso Lacerda, que falará sobre “Os trabalhadores da última hora”, e Marcus Vinicius Rios, abordando a “Missão dos espíritas na Terra”.






Número 24 - página 3

MEMÓRIA

Onze anos sem Chico Xavier...

O médium Francisco de Paula Cândido Xavier é um mito que se espalhou por todos os continentes. Suas obras são um fenômeno de venda e um bálsamo para os aflitos. Palavras bem encaixadas, pensadas, com ênfase em direcionar o leitor para um caminho reto, bom.
Chico Xavier é um mito não por conta de suas inúmeras cartas psicografadas - claro, isso conta muito. Também não é um fenômeno por causa de seu carisma gigantesco. Com uma história magnífica - transposta para o cinema recentemente - ele sempre sofreu por causa de seu contato com os espíritos. Sua infância foi dura, ponteada por perseguições, descrença e medo. Aliás, este medo sempre o seguiu, como uma sombra. Não o medo da pessoa de Francisco, mas o medo do que estaria por trás de seu trabalho. Os espíritos são algo que impõe medo, o medo mais primal: o terror do invisível.
Chico Xavier cresceu e ganhou status de líder espiritual. Para ele, contudo, o papel de líder não era o mais importante. Chico sempre buscou trazer alento, paz para os familiares dos desencarnados e, logicamente, também para os próprios mortos. Seu dom era único, uma verdadeira benção de Deus. Por meio de suas mãos até pessoas à beira da condenação foram absolvidos.
Bem, alguns podem estar imaginando que ele teve uma vida boa. Sim, ele teve uma vida boa, mas longe daquilo que hoje consideramos bom. Amigos o acompanharam, pessoas o amaram e ele viveu entre todos que o apoiavam: isso era a felicidade para Chico. Escrever seus livros - com a ajuda dos mentores espirituais -, auxiliar os necessitados e passar adiante os ensinamentos do Evangelho. Chico, antes de tudo, era um cristão no sentido mais amplo da palavra. Ele poderia viver em mansões, viajar pelo mundo, ter seu nome estampado em jornais e revistas de todos os continentes. Poderia...
Sem estudos, pobre de nascimento e com uma doença que o cegou lentamente, Xavier cresceu em espírito. Seus ensinamentos - ou melhor, os de seus mentores - foram divulgados pelo mundo. Quanto ele ganhou com isso? Muito, porém nada de retorno financeiro. Os direitos de suas obras foram todos repassados para a FEB (Federação Espírita Brasileira),  e a ele restou apenas os lucros das boas obras. A difusão de seus escritos rendeu também a propagação da doutrina espírita, baseada nos ensinamentos de Alan Kardec por todo o mundo.
O auge da fama de Francisco Xavier se deu por conta de suas entrevistas ao programa “Pinga-Fogo” onde Chico  mostrou uma inteligência e sagacidade não condizentes com a pouca escolaridade do médium. Os programas de entrevistas “Pinga-Fogo” foram os mais vistos da história da TV brasileira.
Também há notícias de atos para livrar pessoas possessas dos espíritos obsessores, incluindo a própria irmã de Chico.
O filme e a minissérie sobre a vida e a morte de Chico Xavier são um achado, principalmente por mostrarem respeito à trajetória deste grande líder espiritual. Falecido em 2002, Chico deixou um legado difícil de abraçar. Centenas de livros, milhares de cartas psicografadas, almas apaziguadas e pessoas que encontraram um pouco mais de tranquilidade são apenas algumas da obras deste humilde mineiro de Pedro Leopoldo.
Uma das obras mais conhecidas de Xavier ganhou as telas em 2010. Baseado no romance homônimo de 1943, Nosso Lar foi um marco na história do cinema nacional pela coragem em retratar uma doutrina criticada por muitos à luz do livro, além da alta qualidade que apresentou. Com um roteiro fiel ao livro, Nosso Lar emocionou e foi um sucesso absoluto de bilheteria.
Mas esses não são os pontos principais desta matéria. O que eu quero evidenciar é simples: Chico Xavier não foi um mito. Chico sempre será um mito. Suas ações, a calma, a bondade por trás dos óculos que encobriam olhos doentes, o desapego ao dinheiro e sua vontade em propagar os ensinamentos cristãos o transformaram em uma unanimidade. Você pode não concordar com os ensinamentos kardecistas, porém jamais poderá recriminar as atitudes deste homem que inspirou muitos, transpôs barreiras do preconceito e acabou por se tornar o símbolo de uma doutrina.
São 11 anos sem Chico, completados no dia 30 de julho deste ano... Não, são 11 anos sem a presença física, pois é fato que suas obras, o carisma e o amor que existiam nele são infinitos.
Que para nós, e para os que virão, fiquem estas belas lições de uma pessoa simples, mas tão complexa quanto o amor.
Saudades, velho Chico.

(Texto recolhido do blog Apogeu do Abismo, de Franz Lima.

Número 24 - página 4

ENTREVISTA

Antonio Carahy: a convite da Espiritualidade
Márcia Cristina Barros
Jornalista e arteterapeuta espírita


Como se deu sua formação espírita?
De origem católica, estudante em Colégio Jesuíta, sempre questionei sobre situações que a Bíblia não explica, não me conformando com as respostas evasivas acerca da vida e da morte. Com espírito pesquisador, ao me deparar com a questão do livre-arbítrio, abracei a Doutrina Espírita, há mais de 15 anos, estudando as obras do Pentateuco de Kardec, leitura, para mim, indispensável, diariamente.

Como foi seu envolvimento com o GEPEC?
A princípio, uma pessoa amiga me apresentou ao Grêmio Espírita Perseverança e Caridade, onde comecei a estudar a Doutrina, baseada no Evangelho Segundo o Espiritismo. Depois de alguns anos, trabalhei na Casa, atuando num trabalho de desobsessão no grupo de Salviano Bittencourt, que me indicou como seu substituto, desencarnando logo depois. Há 10 anos coordeno esse grupo com muita honra.
Sondado várias vezes para ser presidente da Casa, declinei da indicação, por me sentir inexperiente. Em 2011, numa sessão doutrinária, recebemos a comunicação mediúnica de três ex-presidentes da casa: Walter Porto, Manoel Olympio e Salviano Bittencourt, já desencarnados, me pedindo para aceitar o convite, que aceitei, mediante ajuda espiritual deles.

Em breves linhas, qual o histórico dessa Casa Espírita?
O Grêmio Espírita Perseverança e Caridade (GEPEC) é a casa espírita mais antiga de Salvador em funcionamento, tendo sido fundada no dia 20 de maio de 1915, por João Henrique Martyr, juntamente com outros companheiros humildes, sob a denominação Sociedade Beneficente Grêmio Espírita Perseverança e Caridade, tendo estabelecido duas finalidades principais: auxílio aos espíritos sofre-dores; e ensino primário a crianças carentes, além da divulgação doutrinária e a assistência aos necessitados.
Em quase 100 anos de existência, a com-pletar em 2015, o GEPEC está localizado na Avenida Euclides da Cunha, n.º 119, na Graça. Esta casa e  seu terre-no eram de propriedade de uma se-nhora que, ao falecer, deixou-os para uma parenta que residia em Portugal, e que nunca se interessou pela herança recebida.
Após mais de 30 anos de ocupação, o Grêmio requereu e foi-lhe deferida a posse pela Justiça, passando a ser legítimo proprietário do logradouro. Durante muitos anos o GEPEC foi mantido em funcionamento com grandes dificuldades, pessoas humildes, frequentadores habituais que não passavam de duas dezenas.
Em 1923 foi criada a Escola Allan Kardec, inicialmente para atender os filhos dos sócios e crianças carentes, mantida exclusivamente com as contribuições dos frequentadores. Em  1956 tornou-se Escola Púbica, por convênio com a Secretaria Estadual de Educação e Cultura, renovado em 1992, sendo municipalizada em 1998. O GEPEC ainda criou e manteve por muitos anos a Escola de Corte e Costura Oswaldo Lima e o Gabinete Dentário.
Na década de 70, o Grêmio passou a ser frequentado por um número maior de pessoas. Em 1977, incorporou-se ao GEPEC o Centro Espírita Luz do Oriente, então presidido pelo saudoso Sr. José Campos, que passou desde então a trabalhar na Casa.
Em virtude do estado precário da sede, foi necessária a construção de um imóvel que melhor atendesse às atividades e necessidades da instituição. Com o incentivo constante e participação ativa do sempre lembrado Dr. Salviano Maia Bittencourt, de Waldemir Oliveira, Dilson Santos, além de tantos outros irmãos e irmãs, iniciou-se a construção do atual prédio, na gestão do também saudoso presidente Manoel Olympio Vieira.  Foram 13 anos de construção e re-formas! A inauguração da sede que atualmente abriga o GEPEC ocorreu em 24 de setembro de 1989, na gestão do Dr. Salviano M. Bittencourt.

Como se dá a interação do GEPEC com a comunidade?

Através do trabalho doutrinário, com reuniões de estudo, cursos para passistas e doutrinadores, palestras e seminários, proferidos por trabalha-dores da Casa e visitantes, sempre com base nos postulados de Kardec; atividades de desenvolvimento mediúnico, grupos de desobsessão e cura energética à distância, em vários horários para atender ao público  diversificado (exceto aos domingos). Há também eventos sociais que divulgam a Doutrina, além do trabalho humanitário que desenvolvemos em serviços de assistência prestados à crianças (Escola Allan Kardec), gestantes (enxovais e acompanhamento médico e psicológico) e idosos (farnel e atendimento médico).

Número 24 - página 5

NOTÍCIAS

Seminário pretende estimular criação de grupos de pais nas casas espírita

O primeiro seminário do Grupo Espírita Federativo da Família (GEFFA, vinculado ao Conselho de Infância e Juventude da FEEB) acontecerá no dia 15 de setembro deste ano, das 8 às 12h30, na sede da Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) e terá como tema “A Casa Espírita como (Co) Laboradora no Progresso da Família”. É direcionado aos dirigentes, grupos de pais, evangelizadores, trabalhadores e frequentadores das casas espíritas e interessados em conhecer e implantar grupo de pais/família nas suas instituições.
A atividade abordará conteúdos relacionados ao papel das casas espíritas no trabalho de estímulo ao progresso espiritual da família. O foco será tanto os grupos de pais existentes quanto grupos em processo de implantação nas casas, bem como as atividades de evangelização infanto–juvenil numa perspectiva de conexão e cooperação entre esses setores.
Inicialmente acontecerá uma exposição sobre o tema do seminário e para isso contaremos com a participação de Nádia Matos, Psicóloga e Especialista em assuntos da família.
Em um segundo momento, Luciana Souza, Joanira Fonseca e Ana Luiza (componentes do GEFFA) estarão conduzindo os trabalhos nos grupos operativos numa perspectiva de inserção/interação do grupo de pais/família nas diversas áreas das casas espíritas.
O GEFFA solicita aos centros que já possuem grupo com foco na família estruturado a gentileza de levarem um cartaz com as atividades desenvolvidas, horário de funcionamento, se possível com fotos e endereço, para divulgação com vistas a estimular os grupos que ainda não implantaram atividades com pais em suas casas por meio de uma exposição. “Caso não consigam levar, não tem problema”, salientam as integrantes.

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POESIA

Perfume de Deus
Emmanuel

Derramou-se o perfume
Das Alturas Celestes.
Os homens o puseram
Em vasos numerosos;
Uns esguios e altos,
Outros amplos e ovóides;
Alguns feitos de ouro,
Outros de barro ou prata.
Tantas formas diversas,
Mas o aroma era o mesmo.
Esta – é a história do amor,
O perfume de Deus.


(Pelo médium Francisco Cândido Xavier, no livro "Luz Bendita")

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LAR JOÃO BATISTA
Aniversariantes de Abril a Setembro

A Tribuna Espírita de Salvador e o C. E. Lar João Batista parabenizam a todos os aniversariantes dos meses de janeiro a junho, pelo transcurso de mais um ano de trabalho profícuo entre nós. Deus os abençoe!


Número 24 - página 6

DOUTRINA

O Espiritismo e a saudade
Morel Felipe Wilkon
Blogueiro espírita gaúcho

O Espiritismo é uma doutrina consoladora, por nos demonstrar a continuidade da vida após a separação terrena. Mas nós devemos reconhecer que o fato de sabermos que a vida continua não ameniza a saudade, pois é difícil superar o silêncio. Esse silêncio que dói e que não é preenchido por nada.Talvez se tivéssemos em mente, se nos lembrássemos com frequência, que todos aqueles que amamos um dia vão partir da matéria, muitos deles antes de nós, talvez então os valorizássemos mais, talvez então notássemos mais as suas virtudes e menos os seus defeitos.
Mas isso também vale para quem, por algum motivo, esteja afastado dos seus. É claro que então a saudade ainda dói, mas ao mesmo tempo alenta, porque o reencontro não depende de que todas as pessoas estejam novamente no mesmo plano… Sem contar que hoje temos o auxílio inestimável da tecnologia. Não é a mesma coisa? Claro que não, mas pouco tempo atrás não existia, não havia esse consolo. Algum tempo atrás, quem imaginaria ver suas pessoas queridas pelo webcam, estando em praticamente qualquer lugar do mundo?
Uma coisa a ser evitada nos momentos de saudade é justamente pensar nela. Antes de deprimir-se, é melhor se manter ocupado com coisas úteis. Não há um monte de coisas que deixamos pra fazer quando tivermos tempo? Pois que se aproveite o espaço vazio deixado pela saudade para ocupar-se com essas coisas.
A palavra saudade só existe na língua portuguesa, e sua etimologia é a mesma da palavra solidão. E são realmente sentimentos que se confundem. Pois a solidão também pode ser aproveitada para coisas que em outras ocasiões e circunstâncias não seriam possíveis. É na solidão que entramos em contato com nós mesmos, com nosso universo interior. Na solidão podemos encontrar respostas seguras para as incertezas que alimentamos, e esse contato com nosso íntimo é que nos dá coragem para enfrentar as dificuldades da passagem pela Terra.
Quando estiver de braços com a saudade, não permita que ela se transforme numa prisão emocional, impedindo que você saiba aproveitar os dias que de repente ficaram mais compridos, impedindo que você domine o seu pensamento, que você domine as lágrimas, que você domine o desânimo que bate à porta ameaçadoramente.
Não! Todos os períodos da vida são importantes, nenhum se repete, com toda a certeza um dia a oportunidade de aprendizado e vivência desse momento da sua vida lhe será cobrado, e é bom que você tenha aproveitado. Seja útil, seja útil aos outros, aos que ficaram, seja útil a você!
E quando puder estar novamente ao lado das pessoas que ama, aproveite ao máximo, viva cada detalhe, cada momento; sabe-se lá quando terá outro abraço como esse? É triste? Talvez. Seria pior se não houvesse o reencontro nesta vida; pior ainda se não houvesse amanhã. Mas a vida é um dia depois do outro, cada um deve ser aproveitado ao máximo, com saudade ou sem saudade. Quanta oportunidade um dia nos oferece! Que o vazio da ausência seja preenchido com bons pensamentos e atividades construtivas.

E que se aproveite essa oportunidade de aprendizado para, no decorrer dessa vida e pela eternidade, darmos o devido valor às coisas simples, que não exigem nada de extravagante para serem feitas, basta a presença daqueles que amamos.

Número 24 - Página 7

HUMOR

Kardec

O nome de Allan Kardec, codificador do Espiritismo, está tão presente na vida cultural brasileira que tem servido também como mote de anedotas, fazendo refletir tanto sobre a importância e a penetração da Doutrina Espírita nos vários setores da sociedade quanto na ignorância em que se encontra parte da população. Eis dois exemplos:

1 - Num de seus artigos, o escritor espírita Richard Simonetti (SP) conta que durante uma campanha eleitoral, um morador de Bauru, vendo um adesivo no parabrisa de um carro com a inscrição “Leia Kardec”, indicando que o veículo pertencia a um simpatizando da Doutrina dos Espíritos, indagou do motorista:
- Quem é essa candidata Leia Kardec?

2 - Nos anos 20 um jornal de humor paulista estampava esta pérola da propaganda, num anúncio muito bem elaborado publicado num jornal popular: “Use a lã Kardec. A lã Kardec aquece até a alma!”

Seguir o Cristo?

O filho, adolescente, rebelde sem causa, estava com os cabelos e a barba sem fazer havia mais de três meses.
A mãe, inteligente e espírita ativa, chama-o para uma conversa:
- Filho, você vai hoje cortar o cabelo e essa barbicha.
- Mãe, a senhora vive dizendo que temos de seguir Jesus; ele tinha barba e cabelos compridos...
Ele se vangloria e morre de rir da mãe, que naquele momento preferiu se calar e agir.
No outro dia, logo cedo ela o acorda com um camisolão meio cinza-pastel nas mãos e um par de sandálias de couro:
- Filgo, acorda! Toma esta roupa igual às que Jesus usava; já separei suas roupas e tênis para doar a uma instituição de caridade.
O garoto solta um sorriso amarelo e diz:
- Calma, mãe, eu estava brincando. Estou indo já no cabeleireiro.

Sempre é possível agir com inteligência, ao invés de autoritarismo e violência.

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CURIOSIDADES

O Espiritismo chegou no Brasil em 1860 sofrendo, desde já, grande preconceito. Só para se ter uma ideia, o Código Penal de 1890 classificava-o como crime. Os primeiros centros espíritas surgiram apenas em 1865.

Existe no Brasil uma cidade fundada exclusivamente por espíritas (ela cresceu a partir de um centro espírita). É a cidade de Palmelo, no estado de Goiás, a 58 Km de Goiânia e com população atual de 2.500 habitantes.

Apesar de a pátria-mãe do Espiritismo ser a França, é no Brasil que a doutrina tem o maior número de adeptos. São 2,5 milhões de seguidores e outros milhões de simpatizantes.

Um dos maiores divulgadores da doutrina espírita no Brasil foi o médico, militar, escritor, jornalista e político Bezerra de Menezes, que começou a divulgar o Espiritismo pouco tempo depois da publicação da obra de Allan Kardec em português.

O mais famoso médium do Brasil foi Francisco Cândido Xavier, nascido em Pedro Leopoldo (MG) em 2 de abril de 1910 e falecido (“desencarnado”, para os espíritas) em 30 de junho de 2002, na cidade de Uberaba. A mediunidade de Chico começou a se manifestar quando ele tinha apenas quatro anos de idade.

Número 24 - Página 8

OPINIÃO

O viver espírita na sociedade
André Luiz Peixinho
Expositor espírita/Diretor-presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia

Após contabilizarmos como integrante do nosso patrimônio intelectual a vasta cosmovisão espírita que, sem desprezar o materialismo e seus benefícios em termos de tecnologia e progresso social, nos aponta para nossa natureza essencial de espírito imortal, para quem só há plena satisfação no eterno, cabe-nos indagar: o que deve ser o viver espírita na sociedade?
Numa primeira instância dizemos que tal viver deve se configurar como conduta moral de homens de bem, isto é, agir em conformidade com a lei de Deus, que preconiza atuarmos em benefício de todos. Esta lei está presente no mundo íntimo de cada um, sob a forma de uma consciência profunda que nos permite discernir nas situações concretas da vida cotidiana o certo e o errado. Evidente que ela só se manifesta se nos dispusermos a escutá-la, o que exige uma crença primordial na sua importância e na sua origem divina. Ainda assim, podemos, por inadequada escuta ou negação, tomarmos atitudes equivocadas, o que pode ser evitável em larga escala se adotarmos o preceito de só fazermos ou praticarmos em relação aos outros, aquilo que avaliamos ser benévolo para nós, em certo sentido, recordando o aforismo grego de que o homem é a medida das coisas.
Outra maneira de lidarmos com sucesso em relação às questões do bem e do mal consiste em nos dedicarmos ao autoconhecimento, pois, assim procedendo, estaremos nos aproximando da compreensão sobre as nossa motivações determinantes de nosso comportamento e nos ensejando oportunidade de aprimorarmos nossa percepção sobre possíveis benefícios ou prejuízos de nossas condutas. Portanto, continua válida a máxima do templo de Delfos “conhece-te a ti mesmo”, reeditada na proposta espírita de evolução consciente.
Muitos aspectos da Lei de Deus encontram-se analisados dialogicamente nas Leis Morais – 3ª parte de O Livro dos Espíritos – explicitando nossas possibilidades relacionais com Deus, o valor do trabalho e das nossas relações com os bens materiais, o significado da sexualidade e sua evolução, nossas reais necessidades de conservação, as questões espirituais relativas à destruição material, a importância da vida social para o progresso do espírito, e como este ocorre em meio às circunstâncias históricas, a caracterização da verdadeira igualdade entre os seres humanos, além das aparências de cor, casta, sexo, ideologia, etc..., a função e o exercício da liberdade, a prática da justiça e da caridade, tudo isto para alcançarmos a perfeição moral.
Se tomarmos esta gama de informações trazida pelos espíritos e resolvermos vivê-la no dia a dia da nossa encarnação, daremos uma grande contribuição pessoal para a nossa felicidade pessoal, pois os ensinos exarados nos diálogos entre Kardec e os espíritos estão carecendo ainda de uma verdadeira imersão existencial para produzirem os resultados desejados.
Desejando verificar a validade de tais lições, poderemos ainda partilhar nossos resultados e construirmos experimentos mais ricos e complexos em grupos de desenvolvimento do ser, gerando microcomunidades diferenciadas, capazes de mais intensamente influenciar seus integrantes, potencializando os efeitos de tais vivências.
Mesmo experimentando com sucesso tais aspectos da lei de Deus em caráter pessoal, não teremos explorado suficientemente o potencial da cosmovisão espírita, pois ela transcende o pessoal e o humano. Tornar-se homem de bem cultivando as virtudes cristãs é passo essencial em nosso projeto evolutivo pessoal que, até certo ponto, transborda para a sociedade.
Isto, porém, não esgota nossas possibilidades de progresso espiritual previstas pelo Espiritismo principalmente enquanto sociedade organizada. Nosso objetivo último deve ser a ascensão para a ordem dos espíritos puros co-criadores do universo. E como a finalidade condiciona o nosso esforço, precisamos estar atentos ao nosso modo de interpretar o que aprendemos sobre o Espiritismo a um conjunto de máximas morais que nos norteará no trabalho de nos conduzirmos como bons cidadãos, segundo parâmetros humanitários, embora, ainda assim, materialistas.
Recordemos que a proposta espírita propõe a supremacia do espírito sobre a matéria e descreve o mundo espiritual como primordial e não dependente essencialmente da vida material, e embora reconheça a existência desta, dá-lhe um valor secundário e transitório, um laboratório significativo, porém limitado para a manifestação do ser.
Por isto mesmo, a vivência espírita em sociedade deve também se concentrar em ampliar a acanhada perspectiva materialista, até hoje hegemônica no organismo social. Trata-se de realizar uma revolução paradigmática, substituindo a primazia da matéria, efêmera e limitada pela morte, pelo primado do espírito imortal, criação divina.
E, para realizá-la, exige-se uma consciência crescente do ser que somos, daí derivando profundas transmutações e criações na civilização. Para provocar a renovação social como preconizou Alan Kardec, em Sinais dos Tempos, no livro a Gênese, espera-se que o pensamento espírita, sem desperdiçar os ganhos do materialismo, traga para o cenário das atividades humanas, novidades compatíveis com o ser espírito consciente encarnado.
Em consonância com esta perspectiva, a Federação Espírita do Estado da Bahia escolheu esta temática para nortear seus projetos de unificação deste ano, que culminará com a realização do XV Congresso Espírita da Bahia, no período de 31 a 3 de novembro do ano em curso. Este evento será precedido de seminários locais, Encontros Macrorregionais para todo o estado da Bahia, visitas institucionais, divulgação na mídia e uma campanha de estímulo às vivências mais elevadas das leis morais. Assim, em fevereiro, adotaremos a virtude brandura e seus correlatos, como afabilidade, mansidão, e doçura para cultivo em nossas comunidades, e estudaremos vivencialmente nossa relação com Deus: a lei da adoração.
Todos estamos convidados a participar deste projeto de transformação da sociedade.