segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Número 24 - página 3

MEMÓRIA

Onze anos sem Chico Xavier...

O médium Francisco de Paula Cândido Xavier é um mito que se espalhou por todos os continentes. Suas obras são um fenômeno de venda e um bálsamo para os aflitos. Palavras bem encaixadas, pensadas, com ênfase em direcionar o leitor para um caminho reto, bom.
Chico Xavier é um mito não por conta de suas inúmeras cartas psicografadas - claro, isso conta muito. Também não é um fenômeno por causa de seu carisma gigantesco. Com uma história magnífica - transposta para o cinema recentemente - ele sempre sofreu por causa de seu contato com os espíritos. Sua infância foi dura, ponteada por perseguições, descrença e medo. Aliás, este medo sempre o seguiu, como uma sombra. Não o medo da pessoa de Francisco, mas o medo do que estaria por trás de seu trabalho. Os espíritos são algo que impõe medo, o medo mais primal: o terror do invisível.
Chico Xavier cresceu e ganhou status de líder espiritual. Para ele, contudo, o papel de líder não era o mais importante. Chico sempre buscou trazer alento, paz para os familiares dos desencarnados e, logicamente, também para os próprios mortos. Seu dom era único, uma verdadeira benção de Deus. Por meio de suas mãos até pessoas à beira da condenação foram absolvidos.
Bem, alguns podem estar imaginando que ele teve uma vida boa. Sim, ele teve uma vida boa, mas longe daquilo que hoje consideramos bom. Amigos o acompanharam, pessoas o amaram e ele viveu entre todos que o apoiavam: isso era a felicidade para Chico. Escrever seus livros - com a ajuda dos mentores espirituais -, auxiliar os necessitados e passar adiante os ensinamentos do Evangelho. Chico, antes de tudo, era um cristão no sentido mais amplo da palavra. Ele poderia viver em mansões, viajar pelo mundo, ter seu nome estampado em jornais e revistas de todos os continentes. Poderia...
Sem estudos, pobre de nascimento e com uma doença que o cegou lentamente, Xavier cresceu em espírito. Seus ensinamentos - ou melhor, os de seus mentores - foram divulgados pelo mundo. Quanto ele ganhou com isso? Muito, porém nada de retorno financeiro. Os direitos de suas obras foram todos repassados para a FEB (Federação Espírita Brasileira),  e a ele restou apenas os lucros das boas obras. A difusão de seus escritos rendeu também a propagação da doutrina espírita, baseada nos ensinamentos de Alan Kardec por todo o mundo.
O auge da fama de Francisco Xavier se deu por conta de suas entrevistas ao programa “Pinga-Fogo” onde Chico  mostrou uma inteligência e sagacidade não condizentes com a pouca escolaridade do médium. Os programas de entrevistas “Pinga-Fogo” foram os mais vistos da história da TV brasileira.
Também há notícias de atos para livrar pessoas possessas dos espíritos obsessores, incluindo a própria irmã de Chico.
O filme e a minissérie sobre a vida e a morte de Chico Xavier são um achado, principalmente por mostrarem respeito à trajetória deste grande líder espiritual. Falecido em 2002, Chico deixou um legado difícil de abraçar. Centenas de livros, milhares de cartas psicografadas, almas apaziguadas e pessoas que encontraram um pouco mais de tranquilidade são apenas algumas da obras deste humilde mineiro de Pedro Leopoldo.
Uma das obras mais conhecidas de Xavier ganhou as telas em 2010. Baseado no romance homônimo de 1943, Nosso Lar foi um marco na história do cinema nacional pela coragem em retratar uma doutrina criticada por muitos à luz do livro, além da alta qualidade que apresentou. Com um roteiro fiel ao livro, Nosso Lar emocionou e foi um sucesso absoluto de bilheteria.
Mas esses não são os pontos principais desta matéria. O que eu quero evidenciar é simples: Chico Xavier não foi um mito. Chico sempre será um mito. Suas ações, a calma, a bondade por trás dos óculos que encobriam olhos doentes, o desapego ao dinheiro e sua vontade em propagar os ensinamentos cristãos o transformaram em uma unanimidade. Você pode não concordar com os ensinamentos kardecistas, porém jamais poderá recriminar as atitudes deste homem que inspirou muitos, transpôs barreiras do preconceito e acabou por se tornar o símbolo de uma doutrina.
São 11 anos sem Chico, completados no dia 30 de julho deste ano... Não, são 11 anos sem a presença física, pois é fato que suas obras, o carisma e o amor que existiam nele são infinitos.
Que para nós, e para os que virão, fiquem estas belas lições de uma pessoa simples, mas tão complexa quanto o amor.
Saudades, velho Chico.

(Texto recolhido do blog Apogeu do Abismo, de Franz Lima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário