quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Número 9 - Capa

ANO III - Abril, Maio e Junho de 2009

EDITORIAL

Saudosismo? Talvez...
Angélica Santos

Pensando sobre a ação do movimento espírita hoje, a refletir na realizações de algum tempo atrás, lembrei de quando as casas espiritas se reuniam para programar eventos em conjunto, tanto na área de seminário, simpósio etc., como também programavam momentos inesquecíveis de lazer.
Os tempos passaram, mudaram, e hoje dificilmente temos notícia de que essa ação conjunta, que estreita de maneira fraterna os laços de compreensão e amizade entre seres ou grupos que comungam o mesmo ideal, buscando a cooperação mútua para o progresso e crescimento.
Foram muitos anos de realizações que satisfaziam os envolvidos tanto em lazer como em busca da sustentação financeira das instituições envolvidas.
Quando convidamos alguém pra reativarmos esses momentos, escutamos evasivas: a diretoria da Casa não concorda; estamos muito atarefados; não temos trabalhadores suficientes para tal empreendimento.
Respeitamos os pontos de vista e partimos para as realizações sem parceria ao longo do tempo; mesmo contando com poucos trabalhadores na nossa instituição, obtemos sucesso.
Eis que este ano conseguimos uma parceria, aliás, um parceiro ideal, que foi o Instituto Kardecista da Bahia, e realizamos um evento que foi coroado de êxito, dentro da maior harmonia, solidariedade e compreensão.
Isso comprova que, unidos, conseguiremos fazer crescer em nossa cidade o movimento espírita, que precisa com urgência se movimentar em todos os sentidos.
Quando resolvi colocar este pensamento no papel, não foi para julgar nada nem ninguém, e, sim, dar vazão a um momento de nostalgia, mesmo porque a Casa em que participamos tem, graças ao esforço hercúleo de seus trabalhadores, realizado todos os eventos satisfatoriamente. Desejei apenas colocar para meus companheiros de ideal que, se fôssemos um pouquinho mais unidos, nosso movimento seria mais unido e teríamos mais força para levar á nossa sociedade os nossos ideais, que são ímpares e precisam de maior penetração, pelo menos aqui em Salvador, e nós, participantes da causa de Kardec, temos, juntamente com a nossa Federação, responsabilidade por isso.

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Nesta edição:

Já pensou em Manoel Philomeno sucessor de André Luiz como "repórter do Além"? Página 3

Dois irmãos deram uma grande contribuição ao Espiritismo inventando o "gabinete mediúnico". Página 7

Afinal, qual é mesmo a natureza íntima do espírito? Página 6

Uma bela amizade vai ouro, mas não tem preço, segundo constata Euzébio da Silva. Página 5

Vem aí a décima nona edição do Seminário sobre Mediunidade. Página 3

Até doente Cornélio Pires não perdia ocasião para fazer humor. Página 7

Número 9 - página 2

MOVIMENTO

Encontros Macrorregionais movimentam a Bahia

A Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB) dá partida, nos dias 27 e 28 de junho, aos encontros macrorregionais de 2009. Sempre nos fins de semana, esses encontros servem para a reavaliação das atividades realizadas pelas casas espíritas das várias regiões do estado, adesas à FEEB, sob a responsabilidade dos respectivos conselhos federativos (CR).
De acordo com o calendário elaborado pela FEEB, a Região metropolitana (Leste) é a primeira a trabalhar, na sede da entidade, em Salvador. Esse encontro reune os trabalhadores de instituições ligadas ao CR 1 (Região Metropolitana) e aos Conselhos Distritais (Salvador).
Depois, será a vez da Região Sudeste, com encontro marcado para os dias 11 e 12 de julho na cidade de Livramento. Em seguida, nos dias 25 e 26 de julho, será a vez dos confrades da Região do Sertão reunirem-se em Caldas do Cipó.
O município de Paratinga será sede da Macrorregional da Região Oeste, marcada para 1 e 2 de agosto. E Nazaré vai reunir os integrantes do Recôncavo no dias 15 e 16 de agosto.
Em setembro,  nos dias 19 e 20, a Macrorregional chega à Região da Chapada Diamantina, com sede em Irecê. Em outubro haverá dois encontros, em Itabuna, para os confrades da Região Sul - dia 3 e 4; e em Jacobina, envolvendo os companheiros da Região Norte, nos dias 17 e 18.

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FEEB constitui nova diretoria

Foi eleita em abril deste ano a nova diretoria da Federação Espírita do Estado da Bahia (FEEB). Os novos integrantes são André Luís Peixinho - diretor presidente; Creuza Santos Lage - diretora de Integração Federativa; Ruth Brasil Mesquita - diretora de Orientação e Qualificação Doutrinária; Edinólia Pinto Peixinho - diretora da Sede Central; Suzana Bernardes Dias - diretora da Sede Histórica (Casa de Petitinga); Miriam Quariguazi - diretora de Arrecadação; e Luciano Crispim de Jesus - diretor financeiro. Antonio Alberto Pina é o novo presidente do Conselho Deliberativo.

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CURTAS

Com palestra do expositor Antonio Valentim Fidalgo, o C. E. Luz e Caridade, localizado no Barbalho, comemora no dia 13 de junho seus 54 anos de atividades.

O expositor e escritor espírita Cláudio Emanuel Abdala lança no dia 17 de junho seu novo livro, Contos da Vida, cuja venda é dirigida às obras da instituição Campo da Paz, voltada para a assistência de crianças e idosos.

"Estudando o Livro dos Médiuns" é o tema do seminário que o Conselho Distrital Federativo 2 (área de Brotas) vai realizar no dia 5 de julho, no C. E. Deus, Luz e Verdade (Vila Laura). O evento tem apoio da FEEB e do Projeto Manoel Philomeno de Miranda.

Discernimento e Vida é o título do livro que a médium baiana Stela Diamantino aca de lançar em Salvador. Traz mensagens de espíritos diversos, dentre os quais Amélia Rodrigues, Emmanuel, André Luiz, Bezerra de Menezes e Meimei.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Número 9 - página 3

MEMÓRIA

O repórter Manoel Philomeno

Manoel Philomeno de Miranda era um cético em relação ao Espiritismo até 1914m quando o médium Saturnino Favila o curou de grave enfermidade, na cidade de Alagoinhas. Convertido à Doutrina dos Espíritos, teve oportunidade de conhecer José Petitinga, em Salvador, e começou a frequentar as sessões da União Espírita Bahiana, fundada em 1915. Na entidade máxima dos espíritas da Bahia de então, Philomeno exerceu diversos cargos até ser eleito presidente pela Assembleia Geral, em virtude da desencarnação de Petitinga.
Na União, suas atividades doutrinárias foram direcionadas para as questões da obsessão e desobsessão, tarefa a que se dedicou no Além, após sua partida do mundo material. Utilizando a mediunidade psicográfica de Divaldo Franco, Philomeno tem se dedicado a orientar os lidadores da terapêutica espiritual quanto aos processos obsessivos.
Através de verdadeiras reportagens sobre a ação que os espíritos ainda ignorantes do Bem exercem sobre os encarnados, mercê da invigilância destes, o Instrutor Amigo vem fornecendo vasto material d exame em obras detentoras de qualidade literária e profundidade doutrinária.
Tal produção faz dele uma espécie de sucessor do Espírito André Luiz, que durante muitos anos e apresentou, pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, como um autêntico repórter do Além.
Segundo Philomeno, "auto-obsessões, obsessões, subjugações são capítulos que merecem da Paologia Médica estudo simultâneo, á base dos postulados do Espiritismo", conforme expressa na introdução do livro "Tramas do destino" (FEB, 1987).
Philomeno recomenda, então, que "ao lado das terapêuticas valiosas, ora aplicadas nos obsessos de vário porte, impõem-se os recursos valiosos e salutares da fluidoterapia e das expressivas contribuições doutrinárias da Terceira Revelação, que traz de volta os insuperáveis métodos evangélico de que se fez expoente máximo Jesus, o Divino Médico de todos nós".
Baiano do município de Conde, Manoel Philomeno de Miranda nasceu aos quatorze dias do mês de novembro de 1876, no distrito de Jangada, sendo seus pais Manoel Batista de Miranda e Umbelina Maria da Conceição.
Sua inestimável contribuição aos estudos da mediunidade e distúrbios espirituais o elevaram à condição de patrono do projeto que leva seu nome criado no Centro Espírita Caminho da Redenção, de Salvador, cujas atividades são chanceladas pela Federação Espírita do Estado da Bahia e reconhecidas no Brasil inteiro através de seminários.

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Lar João Batista realiza XIX Seminário sobre Mediunidade

A psicoterapeuta Solange Meinking fará a conferência de abertura do XIX Seminário sobre Mediunidade do C. E. Lar João batista, marcado para os dias 10, 11 e 12 de julho. O tema é "Mediunidade: ontem, hoje e amanhã", que terá abordagens de Glória Pita (bons médiuns e médiuns orgulhosos), Salete Matos (a complexidade da comunicação mediúnica), Conceição Reis (as religiões e as comunicações mediúnicas), Davino Santos (influência dos espírito em nossas vidas), Vandilson Soares (esquizofrenia é desajuste mediúnico?) e Pedro Camilo (ética mediúnica).
Haverá a participação do Coral Irmã Cáritas, no momento de arte do dia de abertura, e a presença da dupla Glória e Emília no momento de descontração do sábado. No último dia, os trabalhos serão encerrados com uma atividade vivencial conduzida pela médium Maria Schuller.

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Para refletir

"...A diversidade existente nas práticas espíritas não se deve, em geral, a divergências de interpretações da Doutrina dos Espíritos, mas ás diferentes características psíquicas de seus dirigentes e seguidores."

Adenauer Novaes, em "Psicologia & universo quântico"

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Número 9 - página 4

ENTREVISTA

Nelson Xavier vai viver Chico no cinema

Para o ator Nelson Xavier, da Rede Globo, viver Chico Xavier no cinema não é só um próximo trabalho, é uma sina. Desde que começou a carreira, ele vem sendo confundido com o famoso médium por conta do mesmo sobrenome. Nelson, de 67 anos, já se irritou com a confusão, mas hoje a vê com outros olhos: "Ficava indignado de ser chamado de Chico e respondia grosseiramente. Hoje, aceito com satisfação, mesmo antes de saber que faria o filme".
O convite para dar vida ao médium na telona veio há cinco anos, o tempo que o diretor Daniel Filho batalha para levar a biografia escrita por Marcel Souto Maior para os cinemas. As filmagens começaram em março deste ano (2009) e a data da estreia já está escolhida: 2 de abril de 2010, quando se comemora o centenário de nascimento do médium mineiro. "Parece que meu destino está envolvido com essa história. Cansei de escutar das pessoas que, um dia, eu interpretaria Chico Xavier. Mas a vida dele é mesmo extraordinária e merece ser contada", diz Nelson.
O ator tem se preparado para o papel visitando o Lar Frei Luís, conhecido centro espírita localizado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Nelson Xavier tem se impressionado com que que tem visto por lá, apesar de nunca ter sido religioso. "Nunca me voltei para esse lado da religião. Minha formação é de comunista e acredito que só o amor e a solidariedade podem salvar o homem. Não se trata de uma conversão, mas não posso negar que fui tocado. Tenho presenciado muitas coisas e tive contato com entidades. Isso me emociona mito."
A seguir, alguns trechos da entrevista concedida por Nelson Xavier ao jornal O Dia, do Rio de Janeiro.

Como surgiu o convite para fazer Chico Xavier no cinema?
Nelson Xavier - Essa história começou há cinco anos. O Marcel Souto Maior, que escreveu "As Vidas de Chico Xavier", me mandou o livro e um bilhete dizendo que gostaria que eu interpretasse o Chico. Li o livro e fiquei estarrecido com o poder de Chico (...) liguei para o Daniel, que é uma pessoa com quem não tenho relação regular, e disse: "Sei que você vai dirigir Chico Xavier e quero fazer. Se você achar que estou muito velho, eu até faço uma plástica". Segui minha vida até que um dia ele me ligou e disse: "A resposta é sim". Quando caí em mim, tive uma crise de choro.

E como se preparou pra o personagem?
NX - Em março fomos para Uberaba, em Minas Gerais, na casa onde Chico morou, e para Pedro Leopoldo (cidade onde Chico nasceu). Lá tem recortes lindos... Delirei, queria morar lá. É um lugar de paz. Todos o lugares que ele frequentou são carregados de uma energia arrebatadora. Nessas visitas tive notícias de muitos colegas que visitavam o Chico.

Qual foi a reação das pessoas quando descobriram que você viveria Chico Xavier?
NX - Tanto as pessoa de Uberaba quanto o Daniel acham que, por eu não sr comprometido com o Espiritismo, vejo com  mai amplitude. É um olhar de quem é de fora. O filme vai ser sucesso não só no Brasil, quanto internacionalmente.



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Rádio Web FEEB
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Número 9 - página 5

REFLEXÃO

O valor de uma amizade
Euzébio Raimundo da Silva, coordenador do ESDE-FEEB

Recordo-me que naquela fatídica sexta-feira da paixão Jesus carregava a sua cruz em direção ao Calvário. Quando o mesmo cai pela terceira vez, um "desconhecido" é escolhido compulsoriamente por um soldado romano para ajudá-lo na sua dura empreitada. No início, o "desconhecido" resmungava porque ele teria que fazer aquilo, porém constatou que durante todo o percurso em nenhum momento o Rabi queixou-se da infeliz situação.
Ele se perguntava por que o Messias se deixava imolar daquela forma. Ao final da caminhada, no local onde Jesus seria crucificado, o "desconhecido" desvencilha-se da cruz e o Mestre o olha de forma agradecida e amorosa, como a dizer-lhe "obrigado, nunca me esquecerei desse seu valioso apoio". Ele sai a olhar para aquele que lhe transmitiu paz, luz e amor.
Mais adiante no tempo, vamos encontrar Paulo de Tarso. Um idealista e grande divulgador do Cristianismo primitivo. Durante sua caminhada ele terá a ajuda de um grande amigo, que o auxiliará, e muito, na sua missão: Barnabé. Sempre quando Paulo de Tarso precisava desabafar, ou de conselhos, ou ainda de ações pontuais acerca da divulgação da Doutrina Cristã, lá estava seu inseparável amigo. Tiveram poucos momentos de desavenças, mas sempre fiéis um ao outro.
Essa pequena digressão evangélica é para reforçar algo que nos dias de hoje tem peso de ouro: a amizade. Existe um jargão que diz: "quem tem amigos tem tudo". Concordo plenamente. Quem soube agregar pessoas de bem tem adquirido um tesouro de 100%. Quando estive fazendo um pequeno "tour" em um hospital de Salvador, surpreendi-me com a quantidade de amigos que foram solidarizar-se com minha pessoa.
Confesso que não sabia que possuía amigos que pensavam e "cuidavam" de mim. Ainda hoje muitos deles buscam elevar minha auto-estima, meu moral, e mais: ajudam-me de todas as formas;não, como dizem alguns, por obrigação espírita, mas reconheço que o verdadeiro motivo é a amizade que têm por mim e que só Deus pode retribuir.
O valor de uma amizade é medido nessas horas de dor e provação e não naquelas de prazer e luxúria. Ela é o resultado de uma equação espiritual que aqui reproduzo: interesse + vontade firme + compaixão = AMIZADE.
Quando Jesus recebeu a ajuda providencial do "desconhecido", só Ele sabia o seu valor. Quando paulo de Tarso recebeu a ajuda de Barnabé, só ele sabia de sua importância. Guardando as devidas proporções, só quando recebi (e venho recebendo) a ajuda de meus amigos é que sei que sou feliz e que ainda devo pensar em continuar nosso humilde trabalho de divulgador, agora, do Cristianismo Redivivo na Doutrina Espírita.
Descobri, durante aqueles dezessete dias no hospital, que não somos os salvadores da pátria e que tudo funciona de acordo com o tempo de Deus e não o nosso; e mais: de acordo com a Sua vontade. Os meus amigos alertam-me para, agora mais do que nunca, pensar e cuidar mais deste instrumento físico chamado Euzébio, pois a Providência Divina está a dar-me uma grande oportunidade de recomeço, ou, diria, de continuidade mais ponderada dos trabalhos!
Portanto, caros confrades, lembrem-se da fala de I Pedro, quando ele diz: "não tenho ouro nem prata, mas o que tenho isto eu t dou". Deduz-se também aí a amizade. Pois nós podemos ter todos os títulos do mundo, um excelente conforto material, mas se não tivermos amor e "amigos", nada seremos! Viva a amizade: essa tem valor.

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POESIA

Amor
Oferecida ao C. E. Lar João Batista, com especial carinho, por Tião

O amor é uma palavra abrangente
Que se faz presente em toda ação,
Sem ele não se purifica a mente
Nem a bondade que sai do coração.

Sem amor nada se constrói
Pois sem ele nosso corpo é um vazio,
É como a chuva quando falta no estio
Onde nada se cria, e tudo se destrói.

O amor é Deus que nos sustenta,
É o pão que sempre nos alimenta,
É o afago na hora dolorida.

Ele é o símbolo do nosso pai "onipotente",
Que acolhe em seu "seio" toda a gente,
"É a razão de ser da nossa própria vida".

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Aniversariantes do Trimestre

Abril
11 - Carolina Edite (Carol)
19 - Euclésia
23 - Norma
25 - Hermínio
27 - Vera
29 - Fátima

Maio
12 - Joana
14 - Márcia
20 - Cícero
25 - Maria da Glória

Junho
1 - Marco Antonio
3 - Isabel Tavares
8 - Jane Selma
9 - Lindinalva Socorro
19 - Ana Cláudia
29 - Angélica

Cultive no aniversário
Felicidade, harmonia...
Cheque inteiro ao centenário
Com paz, saúde e alegria.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Número 9 - página 6

DOUTRINA

Da natureza dos espíritos
Francisco Muniz, jornalista e expositor espírita

"Que é o espírito?", pergunta (q. 23 de O Livro dos Espíritos) Allan Kardec aos Espíritos Superiores. Àquela época - meados do século XIX -, do ponto de vista filosófico, o espírito era tomado como a vivacidade do indivíduo, ao passo que, religiosamente, equivalia à alma. Intrinsecamente, era (é) um completo desconhecido até a codificação do Espiritismo. Por esta doutrina somos informados de que o espírito é o "princípio inteligente do universo". Se tal definição não satisfaz, a princípio, a sede de saber, sigamos adiante.
Kardec desdobra essa questão perguntando qual é a natureza íntima do espírito (do que ele é constituído, como ele é em essência). Os autores da Doutrina nos dizem apenas que "não é fácil analisar o espírito em vossa linguagem. Para vós, ele não é nada, porque não é coisa palpável; mas, para nós, é alguma coisa". E passam-nos uma advertência: "Ficai sabendo: nenhuma coisa é o nada e o nada não existe". Por tais palavras entendemos que o espírito tem alguma substância, mesmo que esta fuja aos sentidos humanos.
A questão 24, Kardec a formula com bastante tirocínio, ainda assim recebendo dos Espíritos Superiores a necessária correção: "Espírito é sinônimo de inteligência?" - "A inteligência é um atributo essencial do espírito; mas um e outro se confudem num princípio comum, de maneira que, para nós, são uma e a mesma coisa." Com efeito, tomando-se, com o se tomava, o espírito pela vivacidade do indivíduo, essa resposta tem a coerência que Kardec esperava.
Mas aprofundemos um pouco o problema recorrendo a André Luiz. Em "Evolução em dois mundo", o distinto morador de Nosso Lar informa: "(...) Além da ciência que estuda a gênese das formas, há também uma genealogia do espírito. Com a Supervisão Celeste, o princípio inteligente gastou, desde os vírus e as bactérias das primeiras horas do protoplasma na Terra, mais ou menos quinze milhões de séculos, a fim de que pudesse, como ser pensante, embora em fase embrionária da razão, lançar suas primeiras emissões de pensamento contínuo para os Espaços Cósmicos".
Por André Luiz talvez seja fácil compreender a questão 25 de O Livro dos Espíritos, na qual o Codificador inquire se "o espírito é independe da matéria, ou não é mais do que uma propriedade desta, como as cores são propriedades da luz e o som uma propriedade do ar?"
Ora, a pergunta faz sentido, já que se pensava que o espírito era tão somente a vivacidade individual e, tal fosse o sujeito, tal seria o espírito. Mas os Superiores esclarecem: "Um e outro são distintos, mas é necessária a união do espírito e da matéria, para dar inteligência a esta".
Desdobrando a pergunta, Kardec retoma seu pensamento: "Essa união é igualmente necessária para a manifestação do espírito? (Por espírito, entendemos aqui o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades designadas por este nome)". Veem? Com tal adendo o mestre lionês deixa claro o entendimento da época. "Ela é necessária para vós, porque não estais organizados para perceber o espírito sem a matéria; vossos sentidos não foram feitos para isso", respondem os Mensageiros.
Vamos concluir este artigo com a questão 26, uma das mais interessantes d'O Livro dos Espíritos: "Pode conceber-se o espírito sem a matéria e a matéria sem o espírito?" Bem entendido, Kardec cita o termo matéria referindo-se seguramente ao corpo humano. Assim, a resposta: "Pode-se, sem dúvida, pelo pensamento".
O problema, no entanto, parece se aprofundar, uma vez que o pensamento, no tocante à imaginação, pode nos pregar peças ao construir fantasias sobre tema tão palpitante. Mas a inteligência guarda um recurso capaz de solver tais enigmas. Pelo uso da razão, pode-se chegar ao conhecimento das coisas, discernindo entre o que é e o que somente parece ser.
Assim, abstraindo toda fantasia mental, provocada por preconceitos e pelo verniz cultural, entenderemos que, no caso em questão, a realidade do espírito, o que fica é a luz da verdade, pois os espíritos, em essência, não são mais do que centelhas... divinas!

Número 9 - página 7

HUMOR

Cornélio

Até doente Cornélio Pires ainda mostrava sua veia de humorista. Esta aconteceu no hospital em que ele estava internado, em São Paulo. Recebia visitas de parentes, em seu quarto, quando entrou uma enfermeira com sua medicação diária. Era composta de comprimidos e uma injeção. Tomou os comprimidos enquanto a enfermeira preparava a seringa. Virou-se ela e perguntou:
- Sr. Cornélio, onde quer que aplique esta injeção?
Cornélio olhou para os braços já todos picados, olhou para cima, para os lados e sem cerimônia disse:
- Pode aplicar ali na parde mesmo!

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Cartum

Moral da história:
Um amigo, mesmo que não seja capaz de te levantar, sempre achará um jeito de não te deixar cair...

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CURIOSIDADES

Os irmãos Davenport, Ira e William, deram uma duradoura contribuição ao Espiritismo inventando o Gabinete Mediúnico, que aparecia nos anúncios de seus espetáculos. Consistia de um elaborado objeto de madeira que tinha 2,10 metros de altura e 1,80m de comprimento, com três portas na frente. Dentro do gabinete, os irmãos sentavam-se em dois bancos, um diante do outro, e voluntários do público os marravam com cordas; num banco entre os dois ficavam instrumentos musicais, que pareciam fora do alcance deles. Depois de amarrados, fechavam-se a portas do gabinete e diminuíam-se as luzes. Quase de imediato, trombetas, violinos e pandeiros começavam a tocar e tilintar diante de assombrados espectadores; apareciam mãos por uma abertura losangular do gabinete; depois as portas se abriam, mostrando os irmãos ainda amarrados. Essas sessões chegavam a durar 45 minutos.

Conta-nos Yvonne do Amaral Pereira, em suas memórias, que já nasceu médium, pois na primeira infância possuía vidência, audiência e desdobramento com o fenômeno de morte aparente. Com menos de um mês de nascida, teve um acesso de tosse, deu-se a sufocação e o fenômeno da catalepsia. Sua mãe foi a única que a acreditava viva e, graça a seu apelo a Maria Santíssima, Yvonne voltou á vida. Contava esse fato entre sorrisos e dizia à filha: "Eu nada mais tenho com você... você pertence a maria, mãe de Jesus". Yvonne do Amaral Pereira nasceu em 24 de dezembro de 1906, na cidade de Rio das Flores (RJ) e desencarnou em 9 de março de 1984, no Rio de Janeiro.

Segundo velho manuscrito, o Sr. Welsh, sacerdote na cidade de Ayr (Escócia), dialogava com os espíritos por meio de raps. Isso ocorreu em 1661 e o fato está consignado no documento Saddusimus Triunphatus, que também cita o caso de diálogos mantidos com uma entidade por meio de batidas num tambor.

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Trovas espíritas

Matrimônio, companheiro,
Exige muito cuidado;
Pai Adão dormiu solteiro,
Depois acordou casado.
(Cornélio Pires)

Nascer!... Um drama... Promessa,
Ilusão, verdade, engano...
Depois, só se entende a peça
Quanto, por fim, cai o pano.
(Raul Pederneiras)

A nossa vida no mundo,
Assemelha-se a uma festa
Em que o forte afaga o bolso
E o fraco bate na testa.
(Sylvio Fontoura)

Onde a vida te puser,
Conserva-te cavalheiro;
Homem que xinga a mulher
É o que se casa primeiro.
(Gil Amora)

Ela chamava Nicola:
- "Meu querido, meu amor!"
Nicola, desencarnado,
Tem nome de obsessor.
(Sylvio Fontoura)

O doente que se trata,
Com atenção e respeito,
A morte não leva às pressas,
Mas, trata com muito jeito.
(João Moreira da Silva)

Número 9 - página 8

OPINIÃO

Mediunidade como alavanca evolutiva
Messias Canuto - expositor e pesquisador espírita

Pelo que se aprende tanto na literatura científica, quanto na espiritualista, o processo evolutivo está entre as leis naturais, posto que atinge a tudo e todos indistintamente, mostrando-e harmônico, democrático e universal. A evolução humana engloba escolhas e suas consequências: sejam equilibrantes e geradoras de paz e saúde integral, sejam geradoras de intrigas ou dores, prejudicando a ordem natural do progresso. Só aos homens está concedido este direito, não cabendo aos animais inferiores estas escolhas conscientes.
Dentre as várias opções que parecem caber à Inteligência Suprema - Deus - como estímulo à evolução das suas criaturas, destaca-se o aperfeiçoamento do psiquismo humano desde o tempo das cavernas, ascendendo gradualmente para o despertar das faculdades mediúnicas através das vivencias do desdobramento do sono, conforme informa o Espírito André Luiz na obra Evolução em Dois Mundos, psicografada em dupla pelo médium Francisco Cândido Xavier e o médico Waldo Vieira.
Não se pode esquecer que estas conquistas foram possíveis pelo aperfeiçoamento em paralelo das estruturas cerebrais, através de operações no corpo espiritual, conforme nos alerta o Espírito Emmanuel na obra A Caminho da Luz, e o neurocirurgião Nubor Facure na sua obra O Cérebro e a Mente, Uma Conexão Espiritual.
Mesmo que ainda rudes e semi-embotados psiquicamente, do mais grotesco Australopithecus há cerca de 5 milhões de anos, ao mais recente Neanderthal, o princípio inteligente que os regia estruturava-se num mapa psíquico que incluía a mente como usina geradora de energia psíquica do Espírito, campo do pensamentos. Além desta, o corpo espiritual, perispírito ou psicossoma, segundo o Espírito André Luiz. estrutura não pensante, porém, com características eletromagnéticas numa outra faixa de frequência, plástica e modelável pela força e vontade do Espírito, verdadeiro campo de forças coerentes, com patrimônio genômico próprio e inevitavelmente intrincado com as funções biológicas. Há que citar ainda o Corpo Vital ou Duplo Etérico, campo neuropsíquico como informa André Luiz na obra Nos Domínios da Mediunidade, o qual é fundamental pra a compreensão do metabolismo do Fluido Cósmico e sua transformação em Fluido Vital e ectoplasma, ambos influenciando na manutenção da maquinaria biológica e fundamentais para compreensão das materializações.
Para o grande mestre lionês Allan Kardec, o estudo dos processos mediúnicos foi de grande relevância, não tanto por ter experienciado as mesas irantes - "...mesa farta de ciência, religião e filosofia", co mo afirma na conclusão de O Livro dos Espíritos -, mas pelo fato mesmo de deduzir daí o princípio da imortalidade da alma e a possibilidade de comunicação com os ditos mortos (desencarnados). Obtendo no Cap. XVI de O Livro dos Médiuns, basicamente através dos Espíritos Sócrates e Erasto, a informação das duas grandes categorias de médiuns - de efeitos físicos e de efeitos intelectuais - construiu com sua invulgar personalidade organizadora o maior e mais detalhado manual de orientação para o desenvolvimento e práticas experimentais das dezenas de variedades mediúnicas, da falante à de cura, da vidência à pintura, da inspiração à psicografia, etc.
Descrevendo a mediunidade como "luz que se manifesta através do corpo, mas cuja fonte procede do Espírito", Emmanuel leva-nos à compreensão de que as conquistas evolutivas do Espírito devem implicar na potencialização das faculdades mediúnicas, e reciprocamente, a prática honesta, desapegada e voluntária da mediunidade, deve implicar no melhoramento do ser tanto individual quanto coletivamente, haja vista atuar como elo psíquico numa rede multivariada de mentes desencarnadas que precisam do aconchego psicofísico proporcionado em grande parte dos processos de comunicação.
O médium, ao atuar com passividade e amir, coloca-se no "quadro de referência do outro" - vivencia o "ser do outro" com todas as suas angústias, dores, lágrimas, ou risos e alegrias. Verdadeira "ponte sobre pilares do amor, solidariedade, renúncia e dedicação".
Em paralelo com o aspecto assistencial da mediunidade, muito em uso em milhares de grupos no mundo, mais particularmente no Brasil, há inúmeros estudiosos e pesquisadores dedicados à exploração cuidadora dos processos das comunicações e da evidenciação da imortalidade da alma. Destacaremos dois autores por seus recente e criteriosos trabalhos:
- Dr. Alexander Moreira (2004) - Médico, defendeu tese de Doutorado na Faculdade de Medicina de São paulo, intitulada Fenomenologia das Experiências Mediúnicas, Perfil e Psicopatologia de Médiuns Espíritas. O estudo envolveu 115 médiuns escolhidos aleatoriamente nos centros espíritas de São Paulo. Foram aplicados questiona´rios sociodemográficos e de atividade mediúnica, além de questionários específicos da área psiquiátrica, como o SRQ (Self-Report Psychiatric Screening Questionnaire) e EAS (Escala de Adequação Social).
Concluiu, dentre vários resultados, que os médiuns estudados evidenciaram alto nível socioeducacional, baixa prevalência de transtornos psiquiátricos menores e razoável adequação social.
Ou seja: a atividade mediúnica não implica distúrbios psiquiátricos, nem sociopatias, o que, aliás, já fora afirmado por Kardec há mais de 150 anos.
- Gary E. R. Schwartz - Médico e professor pela Universidade do Arizona, vem desenvolvendo pesquisas com protocolos rigorosos, buscando evidenciar que alguns médiuns realmente podem ter autênticos dons parapsíquicos, e levantou questões fundamentais acerca da continuidade da consciência após a morte do corpo.
Na sua obra "The Afterlife Experiments", o Prof. Schwartz provoca com suas conclusões a rediscussão da temática da consciência pós-morte, considerada ingenuidade por muitos cientistas. É a ciência dos seres encarnados corroborando as afirmações catalogadas por Allan Kardec, vindas com sabedoria dos seres desencarnados, há mais de 150 anos.
Finalizando, agradecemos aos praticantes da mediunidade com fins assistenciais, os quais espalham luzes e alento na sua tarefa de amor e esclarecimento mútuo, ao passo que exortamos a estes mesmos médiuns, e aos espíritas em geral, a valorização do estudo organizado com equipe multidisciplinar, fundamentado na paciência e amorosidade ma também na organização e planejamento.
Não esqueçamos que Kardec foi um didata persistente e excelente catalogador de fatos e dados. Por isso, conseguiu fazer fluir a verdades espirituais aprendidas como se fossem as águas calmas de um rio - enquanto alimentam o solo da Terra (nós, os encarnados), refletem as nuvens do céu (a sabedoria dos espíritos reveladores).