quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Número 21 - página 8

OPINIÃO

Impermanência
Olvanir Marques Oliveira

A transitoriedade do viver vem constituindo para todos nós uma grande angústia existencial. Nem sempre enxergamos o mundo como uma estação propícia e acolhedora, nesta viagem do auto-encontro. Ancorados no porto das apreensões corriqueiras, desviamos da meta e nos deixamos levar pela maré dos acontecimentos.
O apego à família, aos bens materiais, ao status social e tantas outras quinquilharias que pensamos levar na bagagem de retorno, nos cumula com destroços da nossa insensatez sob a forma aparente de “previdência”.
Os cuidados do mundo demonstram, ao nosso ver, uma cautelosa atitude - o que nos facultará futuras dificuldades quando o inverno chegar. É a velha história da cigarra e da formiga.
Assim é o raciocínio do homem atrelado ao “ego”. Não bastam as lições diárias que nos advertem do perigo e que se constituem verdadeiros sinais de alarme, como a insônia, a irritação constante, as insatisfações de toda ordem, gerindo o gosto amargo das nossas atribulações e emoções inúteis.
Alguns ponderam: eu não mereço!; é demais para a minha “cachola”! Outros intentam, desprovidos de caráter, o jogo fácil da esperteza que lhes proporcione mais e mais vantagens. Há, ainda, os que insistem em preconizar a lei do mais forte, afinal, dizem, “o mundo é dos que sabem curtir e gozar. Assim, vou aproveitar enquanto eu posso”.
Quase certos de tamanha incoerência, mal nos apercebemos que o tempo urge e continuamos sem tempo suficiente para aproveitar o tempo que nos resta. O lucro real somente nos aprimora o desejo de superar os acontecimentos e deixar para depois o que poderíamos, agora, realizar. É então que o momento da sobrecarga das energias gastas nos convoca a compromissos inadiáveis.
Enquanto aqui permanecemos, somente enxergamos com as lentes escuras do egoísmo. Talvez um dia, quem sabe, nos encontremos preparados para tais cometimentos. E a voz da consciência atenderá os apelos do Eu Superior: “Não recalcitres, avança o mar das tuas idealizações, lança as redes e navega. Amanhã, por certo, não terás a mesma oportunidade”.
Reconsideremos e retomemos o caminho de volta. Viver é preciso. Administrar o instante presente com a sabedoria perene dos que sabem “passar pelo mundo”, sem ao mundo pertencer”. (Jesus)
Confúcio, referendando o mestre de Nazaré, denomina a sintomatologia dos que choram a perda do que não possuem como o “sofrimento da impermanência”.
È apenas uma questão de inteligência emocional. Se procurarmos entender a natureza das nossas relações, o objetivo dessa passagem e o mergulho no invólucro carnal, assim como a necessária submissão às leis biológicas, nos libertaremos do sofrimento, pois o real é impermanente e somente permanece o irreal, invisível aos nossos olhos. Este é essencial.

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