terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Número 11 - página 3

MEMÓRIA

Vianna de Carvalho, um bandeirante do Espiritismo
Susan/Débora

“O Espiritismo é claro como o Sol e benfazejo como fonte cristalina. Programado por Jesus desde as horas messiânicas, chega hoje ao homem como a resposta viva dos Céus ao clamor da Terra.” (1)

Ao ler estas frases marcadas pela clareza doutrinária talvez nos perguntássemos quem seria o autor. Este é Manuel Vianna de Carvalho, um espírita muito atuante que viveu no final do século XIX, início do século XX. Orador de grande eloquência esclareceu os neófitos da Doutrina Espírita e orientou a formação de novos Grupos Espíritas, exortando sempre a fidelidade doutrinária através do estudo sério e consciente.
Filho de Tomaz Antonio de Carvalho, professor da Escola Normal do Ceará, e da Sra. Josefa Vianna de Carvalho, nasceu em 10 de dezembro de 1874, na cidade de Icó, no Ceará. Fez os primeiros estudos de Humanidades no Liceu de Fortaleza. Em 1891, matriculou-se na Escola Militar do Ceará, hoje extinta, e, ao fim desse ano, foi classificado em primeiro lugar na ordem de comportamento e de merecimentos intelectuais. Nesse período, tomou conhecimento das obras de Allan Kardec e, por apresentar uma alma de nobres ideais, iniciou-se na divulgação do Espiritismo. Dotado de certa sensibilidade apresentava singular aptidão musical sendo um exímio violinista.
Em 1895, já tendo galgado o posto de alferes, transferiu-se para o Rio de Janeiro, a fim de matricular-se no curso Superior da antiga Escola Militar da Praia Vermelha. A esse tempo, no Rio, funcionava o “Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil”, fundado pelo Sr. Angeli Torteroli, Dr. Ernesto dos Santos Silva, Carlos de Lima e Cirne além de alguns outros pioneiros da Doutrina, no Brasil. Vianna ligou-se a esse grupo e passou a proferir palestras, nas quais reuniam-se cerca de 500 pessoas.
Em 1896 foi transferido para Porto Alegre, como aluno da Escola Militar que ali funcionava. Naquele local fez algo muito inusitado. Com o auxílio de Joaquim Xavier Carneiro, conseguiu uma lista com nome e endereço de simpatizantes do Espiritismo, os quais foram reunidos para formar, numa casa abandonada, um núcleo de estudos da Doutrina. Sem cadeiras, sem mesa, os novos estudiosos espíritas ouviam as palavras entusiasmadas e o convite caloroso de Vianna no sentido da maior difusão do
Espiritismo na cidade.
Entretanto não permaneceu na localidade por muito tempo, uma vez que os militares são requisitados em várias partes do país. De volta ao Rio de Janeiro, recomeçou as preleções no Centro da União Espírita assim como em outros grupos, realizando viagens para difusão do Espiritismo no interior do Estado do Rio de Janeiro. Em 1907 formou-se engenheiro militar pela Escola do Realengo e se tornou mais tarde reconhecido Major do Exército Brasileiro. As transferências, muito frequentes devido à vida militar, possibilitaram a Vianna intervir em diversos estados brasileiros. Deste modo foi o responsável pela fundação do Centro Espírita Cuiabano e do Centro Espírita Cearense, em Fortaleza. Além disso, promoveu diversas oratórias em muitas cidades como: Curitiba, Maceió, Recife, Santa Maria Boca do Monte (RS), São Paulo, Sergipe e Rio de Janeiro.
Além de eloquente orador, “Vianinha”, como também era carinhosamente chamado, atuou como articulista de alguns jornais espíritas e escreveu para muitos jornais não-espíritas de todo o país. Escreveu assiduamente para o periódico Reformador e criou os jornais Combate – inicialmente destinado a contestar os argumentos do clero católico, que nessa época desencadeava uma campanha difamatória contra o Espiritismo, através do jornal Cruzeiro do Sul –, e Lábaro, destinado a difundir o Espiritismo.
O Major Vianna publicava artigos de esclarecimento ou de defesa ao Espiritismo nos jornais locais, das cidades em que era designado a trabalhar. Publicou artigos em periódicos como O Unitário, A República, Jornal do Ceará, Diário da Manhã, Diário do Interior e muitos outros. Nestes locais também se envolvia em atividades espíritas promovendo palestras, reorganizando Centros Espíritas, combatendo as acusações que eram feitas à Doutrina e lutando para extinguir os grupos que executavam trapaças e charlatanismo em nome do Espiritismo.
Apesar de muito querido nos meios espíritas, foi extremamente atacado e perseguido, em todas as localidades por onde passou. Em 1919, por exemplo, quando estava novamente em Maceió, detratores do Espiritismo tentaram proibir-lhe as palestras e até mesmo expulsá-lo. Depois de acirradas polêmicas e debates na tribuna foi removido para o estado do Paraná. Entretanto jamais esmoreceu ou negociou, sempre pautou suas atitudes pelo “sim, sim; não, não”. Seu trabalho se assemelha à de um bandeirante que desbrava locais desconhecidos ou até mesmo inóspitos.
Desencarnou em 1926, a bordo navio “ÍRIS” que o levaria para o Hospital de São Sebastião, em Salvador, uma vez que estava sofrendo de grave patologia. Desencarnado, Vianna de Carvalho se mostra um espírito muito comprometido com o movimento Espírita Cristão Brasileiro e continua seu trabalho de orientação, como demonstra o trecho da mensagem a seguir: “Mesmo no Movimento Espírita, não faltam os que demoram receitando fórmulas salvadoras, em processo de simplificação, sem qualquer esforço nobre com a responsabilidade. Conquanto qualquer esforço nobre represente operação elogiável, é necessário que se recorde o inclinável dever da responsabilidade ante os postulados que fixam convicções capazes de operar vigorosas modificações no panorama da existência humana.”

(1) Agora fica mais compreensível que estas palavras foram proferidas por alguém que apresenta conhecimento de causa a respeito das dificuldades na divulgação doutrinária, e, mais do que isso, na responsabilidade individual na Seara do Senhor.

(1) Enfoques Espíritas - psic. Divaldo P. Franco - lição Ante os Tempos Novos
Fontes consultadas: Grandes Espíritas do Brasil; Grandes Vultos do Espiritismo

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