OPINIÃO
As vozes e a escuta
Liliana Peixinho - jornalista e ativista ambiental
Em meio a crises de desemprego, desarmonias familiares, relações de faz de conta, fanatismos religiosos e tantos outros ruídos sociais, o ser humano se mostra fragilizado, inseguro, infeliz, doente mesmo, em agonia social. Nesse cenário observamos demandas crescentes de pessoas em desespero espiritual à procura de equilíbrio, atenção, cuidado, amor puro que conforte a alma. No ímpeto de cura rápida para problemas profundos, a superficialidade do fazer-de-conta-que-faz, resolve, acredita, encaminha, parece agravar ainda mais cada problema. Parece faltar coragem em desafiar a dor do sofrimento como fato, para a vida digna. Nesse contexto observamos pessoas aconselhando umas as outras para procurar ajuda, aqui ou ali, superlotando templos, salas, auditórios, igrejas, casas espirituais, numa convulsão social agonizante, crescente, incômoda.
Na busca do sublime, harmonioso, tranquilo, equilibrado, os caminhos percorridos por boa parte da humanidade revelam percalços, obstáculos, barreiras, criadas por ela própria, através da avareza, egoísmo, imediatismo, ódio, paixão, ciúme, revolta, vaidade, discórdia, orgulho, vício. Na origem disso está a família desestruturada em valores de solidariedade, respeito, limite, carinho, atenção. Definida como regra de conduta, de comportamento, para o equilíbrio nas relações entre as pessoas, a ética passa por séria crise em todo o mundo. Seja no ambiente de trabalho, nas relações pessoais, sociais ou até mesmo entre familiares, os interesses de cada um estão dando lugar aos interesses coletivos. Como o respeito ao outro é base para a aplicação da ética e as pessoas estão, cada dia mais, preocupadas consigo mesmas, em defender os seus interesses, os conflitos daí decorrentes têm gerado crises sociais inconsoláveis.
“Que eu não perca a vontade de doar este enorme amor que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido a provas e até rejeitado.”
Chico Xavier
Se a comunicação tem papel de agregar, unir, facilitar, difundir informações em nome da preservação da vida, por outro lado observamos efeitos contrários, com ruídos desagregadores do bem comum. Num dos meios mais massivos, a televisão, por exemplo, é alarmante a quantidade de filmes, programas, notícias que não têm compromisso com a formação da cidadania plena, direcionada à formação do ser humano como sujeito de direitos e deveres, em construção coletiva. Em setores corporativos, funcionários brigam entre si, competindo, desconsiderando valores que não sejam o capital. Na política, candidatos massacram-se uns aos outros, na guerra de interesses específicos, imediatos, descomprometidos com a construção coletiva. Ser político virou sinônimo de saber driblar, enganar, enrolar, protelar demandas legais. Entre amigos, colegas de escola, vizinhos, afeto e respeito são raros. Em tempos não muito distantes, brincava-se, conversava-se, contavam-se histórias ricas para o aprendizado da vida, construindo-se emoções, relações de harmonia. A realidade atual mostra discórdia, intolerância, discussões, brigas e defesa de interesses próprios, por onde uns e outros se perdem. A crise doméstica, com pais separados de forma desarmoniosa, faz surgir pessoas com problemas emocionais/psicológicos descompensados, graves, dissolvendo, ainda mais, laços afetivos importantes.
“Quando a violência cortar o seu coração com lembranças amargas, recorda o Mestre. Jesus foi a mais sublime das criaturas, o mais querido dos filhos e o mais perseguido pelos próprios favorecidos de seu amor. E quando achar que para a violência não existe solução, recorda o remédio, ainda não tomado, que o Cristo nos deixou para que esta triste vertigem fosse apagada do seio da Terra, nos prometendo vida com mais alegria: “Amai-vos como eu vos amei”.
Médium Celso de Almeida Afonso
Espírito Caminheiro de Agostinho. Livro: Frutos do Caminho, p. 120
O que fazer? Como recomeçar o resgate do equilíbrio, do respeito ao outro? O desafio está em pauta junto às novas gerações, aos filhos de um mundo carregado de injustiça, sedento de solidariedade e carente de vontade em querer saber, pesquisar, querer entender e fazer, construir ambientes com histórias de dignidade, bravura e orgulho de sermos gente, que pensa, sente e vê o outro como aliado, e não como inimigo. No Livro dos Espíritos, base da Filosofia Espírita, publicado em 18 de abril de 1857, o leitor pode pesquisar sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, tal como foram transmitidos pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec. Seu conteúdo é apresentado em quatro partes: das causas primárias; do mundo espírita ou dos espíritos; das Leis Morais; e das esperanças e consolações. É um livro que abre novas perspectivas ao Homem, pela interpretação que dá aos diversos aspectos da vida, sob o prisma das Leis Divinas, da existência e sobrevivência do Espírito e sua evolução natural e permanente, através de reencarnações sucessivas. Seus ensinamentos conduzem o Homem atual à redescoberta de si mesmo, no campo do espírito, fornecendo-lhe recursos para que compreenda, sem mistério, o que é, de onde veio e para onde vai.
Texto de elevado conhecimento e sabedoria. A vida sem encanto perde o seu mistério, assim como, a dignidade humana é um dom precioso, dessa forma, boas ações irradiam tanto amor que derretem até o gelo da indiferença. Obrigado por mim propiciar ler um texto tão verdadeiro.
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