quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Número 18 - página 8

OPINIÃO

“Canudo” espiritual?
Gledson Barretto


Fala-se muito em Universidade Espírita, em curso superior de Espiritismo, curso superior de Teologia Espírita no Brasil, quiçá fora dele, com direito a diploma, beca e tudo o que é de direito em graduação universitária... Nossa! Será que este é o caminho para a popularização do Espiritismo? Será que nós, espíritas, só estudaríamos a Doutrina se pagássemos por aulas? Estranho isso, não? E como ficaria o capitalismo das empresas educacionais? Seria mais uma oportunidade, um filão? Seria o Espiritismo uma ciência que deve ser estudada nas instituições não-espíritas?
Por outro lado, se a idéia for transdisciplinar, no sentido de ser uma proposta de ampliação do cabedal cultural, isto é, ter no Espiritismo a ser estudado nas universidades como grade integrante dos programas ditos transversais, objetivando uma complementação dos cursos, como se fora uma espécie de Filosofia Espírita para os cursos em geral, observando-a como uma opção filosófica de mundivisão (visão global) do conhecimento como a Filosofia Ocidental (ainda que nascida no oriente) se propõe... Ou uma espécie de Ciência Espírita, ou uma Epistemologia Espírita visando ao conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico, no sentido de explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, ou sociais, sejam lógicos, matemáticos ou linguísticos, aí, sim, o espírito como ser presente em toda parte do saber humano como diria León Denis), sistematizando as suas relações, esclarecendo os seus vínculos, e avaliando seus resultados e aplicações no mundo material por influência do mundo causal... Quem sabe assim teríamos o Espiritismo podendo e devendo ser estudado nas universidades! Porém, nunca como matéria avaliativa, curricularmente falando, em termos de promover o educando ao próximo nível escolar. Antes, sim, ser o Espiritismo um promotor humano e de humanidades...
Vejamos, a este respeito, a palavra de um Espírito-espírita, Vianna de Carvalho, em sua obra monumental Atualidade do Pensamento Espírita: “Pergunta: O meio universitário estaria preparado para receber o conhecimento do Espiritismo em seu currículo? É válida a proposta?
Resposta: Não nos parece próprio apresentar o Espiritismo como uma Doutrina que deve ser estudada nas universidades, fazendo parte do seu currículo pedagógico. Seria repetir o equívoco experimentado por outras doutrinas que, no passado, tentaram impor os seus postulados, terminando pelo delírio da intolerância e do fanatismo.
O Espiritismo é uma ciência que deve ser estudada na Entidade Espírita, onde se encontram presentes os instrumentos de aferição de valores que demonstram a excelência dos seus postulados. Examinado em profundidade, abrem-se-lhe as belas facetas filosófica e religiosa, facultando a cada qual insculpir no íntimo as lições hauridas e transformando-o para melhor, de forma que a sociedade experimente a sua renovação moral.
As experiências mediúnicas podem ser realizadas em qualquer lugar onde predominem os valores nobres da investigação e da análise, conforme ocorreu no passado e ainda sucede no presente.
Sob esse aspecto, o meio universitário está preparado para receber as informações do Espiritismo.
O Espiritismo poderá e deverá ser estudado nas universidades como parte dos programas transversais, que objetivam complementar os cursos, aumentando a capacidade de discernimento dos alunos e abrindo-lhes mais amplos espaços culturais para o entendimento da vida e das suas finalidades. Não, porém, como disciplina sujeita à avaliação curricular e à promoção dos educandos.
Em nossa forma de análise, somos de parecer que o ensino deve ser sempre leigo, dando liberdade a cada estudante de examinar o que lhe aprouver e escolher o que lhe seja melhor, conforme ensinava o apóstolo Paulo (I Tess, 5:21) com outras palavras”.
Estudemos, pois, e meditemos sobre isso, antes de divulgarmos artigos como ”Brasil terá primeiro curso superior de Espiritismo” e outros do gênero. Se, como livres pensadores, compreendermos que essa é uma verdade, divulguemos com todo respeito que mereça o artigo. Antes, porém, façamos um exame pormenorizado e em profundidade. Para que ao abrirem-se “as belas facetas”, tais quais as superfícies cristalinas da pedra preciosa chamada Espiritismo, em seu tríplice aspecto (filosofia, ciência e religião), que nos faculta esta generosa e prometida Doutrina Consoladora, não façamos dela o que fizemos do cristianismo no passado, não tão distante. Ao contrário, posicionemo-nos como espíritas atuantes.
Lembremo-nos que o Espiritismo é Doutrina dos Espíritos que se apresenta de forma perfeita e proporções harmônicas. Que ao insculpir, em nosso eu mais profundo, as lições luminíferas hauridas dos imortais, deverá proporcionar a nossa transformação individual para melhor, de forma que a sociedade experimente a sua renovação moral através de nossa mudança.
Não vimos ao mundo para transformar ninguém, a não ser a nós mesmos. Precisamos aprender o real sentido do verbo Amar para melhor nos respeitarmos uns aos outros. Na medida em que o homem se transformar em uma pedra límpida e preciosa teremos Instituições que retratem o seu íntimo, teremos Instituições melhores, conforme o “Credo espírita” apresentado pelo ínclito Codificador em Obras Póstumas: “Quando os homens forem bons, organizarão boas instituições, que serão duráveis, porque todos terão interesse em conservá-las. O progresso geral é a resultante de todos os progressos individuais” (KARDEC, Allan).
Consequentemente, teremos um mundo melhor. E essa idéia não precisa ser levada aos currículos do meio universitário para ter efeito. Pelo menos, não no sentido de um curso superior de Teologia Espírita. Mas, quem sabe, se a idéia for transversal: “[...] O Espiritismo poderá e deverá ser estudado nas universidades como parte dos programas transversais, que objetivam complementar os cursos, aumentando a capacidade de discernimento dos alunos e abrindo-lhes mais amplos espaços culturais para o entendimento da vida e das suas finalidades. Não, porém, como disciplina sujeita à avaliação curricular e à promoção dos educandos”. [...]

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