quarta-feira, 15 de junho de 2011

Número 14 / Página 8

OPINIÃO

O que significa espiritualidade?
Ivan Cézar


Por conta de uma busca pela compreensão mais apurada sobre termos que, até então, ficavam restritos ao domínio das religiões, o que nem sempre é baseado nos métodos científicos de pesquisa, vamos conversar um pouco sobre o termo espiritualidade e suas abordagens na dita ciência acadêmica, na maior parte deste material, e do espiritismo, buscando apontar as conexões para que o entendimento das abordagens nos leve a um denominador comum, justificando-se por facilitar a nossa compreensão o que nos levará, verdadeiramente, a um entendimento único e definitivo sobre o termo.
Atualmente verificamos uma gama muito grande de publicações voltadas para o termo espiritualidade. Através das religiões orientais, segundo Hardy (1987), vemos a ênfase na percepção da espiritualidade imanente, que é sentida por meio da interação com o deus interior e na qual todo momento e todo contexto contêm possibilidades espirituais. Fala-se ainda em espiritualidade nas organizações, nos lares, espiritualidade e autoajuda, espiritualidade no trato com o próximo e consigo mesmo e nos perguntamos. O que realmente significa espiritualidade? Para ser um indivíduo espiritualizado, preciso aderir a uma religião?
Numa definição inicial sobre os questionamentos, Hill e Pargament (2003), nos informam que a espiritualidade está ligada aos aspectos pessoais e subjetivos da experiência religiosa e a uma busca pelo sagrado, processo através do qual as pessoas procuram descobrir e, em alguns casos, transformar aquilo que têm de sagrado em suas vidas.
Verificamos que neste conceito, os autores ligam a espiritualidade a uma experiência religiosa, o que não significa a necessidade de aderir a uma religião formal, mas a compreensão efetiva do termo.
Reed (1991, p. 14) confirma a afirmação anterior dizendo que “a espiritualidade é a propensão humana para encontrar um significado para a vida através de conceitos que transcendem o tangível, um sentido de conexão com algo maior que si próprio, que pode ou não incluir uma participação religiosa formal”.
E o que nos impulsiona nesta busca, o que nos faz compreender a espiritualidade através de um sentimento intrínseco e absolutamente particular? Laabs (1995, p. 60), entende que a espiritualidade diz respeito ao fato de “todas as pessoas terem dentro de si próprias um determinado nível de verdade e de integridade, e de todos nós termos o nosso próprio poder divino.” E é este poder divino que nos movimenta na busca pela perfeição do ser interior que trazemos de forma inata dentro de nós.
Espiritualidade está ligada a sentimentos como caridade, amor ao próximo e a si mesmo, senso de benevolência e amparo ao necessitado. Presume-se que indivíduos com espiritualidade acentuada são mais cientes do significado que conferem à vida, assim como mais “fortes” e perseverantes (SANDERS III, HOPKINS & GEROY, 2003).
Importante salientar que todas essas definições foram dadas por escritores da área acadêmica, o que nos confirma o interesse geral pelo tema e a sua importância para o futuro da nossa existência.
O processo de busca interior pela espiritualização, segundo Novaes (2000, p. 26), “requer envolvimento num processo de reconhecimento e percepção de si mesmo na condição de espírito imortal. Nesse processo é fundamental a autoanálise e a compreensão dos estágios em que nos encontramos em relação às várias dimensões da própria vida”.
Após breve análise das contribuições, verificamos que a busca pela espiritualidade não necessita de nenhum culto (procedimento) externo, não há, necessariamente que se aderir a alguma religião de conceitos dogmáticos ou cumprir a algum paradigma.
Ross (1995) definiu a dimensão espiritual como dependendo de três componentes, revelados nas necessidades de encontrar significado, razão e preenchimento na vida; de ter esperança/vontade para viver; e de ter fé em si mesmo, nos outros ou em Deus.
Espiritualidade tem ligação direta com a busca interior pelo sentido da existência, pelo sentido da nossa passagem por este planeta e a forma como aproveitamos as nossas experiências e reparamos os eventuais erros cometidos no meio do caminho para que, desta forma, possamos estar cada vez mais conectados com o nosso ser interior e buscar a aproximação com o princípio criador das nossas vidas.
É neste contexto que a doutrina espírita está inserida, através do seu tríplice aspecto (religioso, filosófico e científico), nos apresentando ferramental de grave importância para a nossa busca individual pelo autoburilamento através do autoconhecer. Caminhando em direção à espiritualidade, podemos nos utilizar dos esclarecimentos dados por esta doutrina e seguir o caminho da iluminação interior.

Referências:
 
FAIRHOLM, G. W. Spiritual leadership: fulfilling whole-self needs at work. Leadership and Organization Development Journal, v. 17, n.5, p. 11-17, 1996.
HARDY, J. A Psychology with a soul: psychosynthesis in evolutionary context. London: Woodgrange Press, 1987.
HILL, P. C.; PARGAMENT, K. I. Advances in the conceptualization and measurement of religion and spirituality. American Psychologist, Boston, 2003.
LAABS, J. J. Balancing spirituality and work. Personnel Journal, 2004.
NOVAES, Adenáuer. Psicologia e espiritualidade. Salvador: FLH, 2ª ed, 2000
REED, P. Spirituality and mental health in older adults: extant knowledge for nursing. Fam Community Health 1991.
SANDERS III, J. E.; HOPKINS, W. E. & GEROY, G. D. From transactional to transcendental: Toward and integrated theory of leadership. Journal of Leadership and Organizational Studies. 2001.

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