E você, vai jogar a toalha?
Jéssica Néri - diretora do Departamento de Comunicação Social do Lar João Batista
Outro dia estava conversando com uma mulher na faixa dos quarenta anos sobre a presença constante da violência em nossas vidas nos dias de hoje. Em determinado ponto da conversa, com ar pesaroso, ela me confessou: “Tenho um filho pequeno, mas confesso que não sei se teria coragem de colocar outro no mundo na atual situação em que vivemos”. Meu primeiro impulso foi o de concordar com seu argumento – muito coerente no contexto em que falávamos – mas logo em seguida lembrei-me da minha condição de evangelizadora infantil e preferi calar-me diante do mar de questionamentos que brotaram em mim naquele momento.
Nunca coloquei um filho no mundo, mas isso não me isenta de minhas responsabilidades de estar no mundo. Se não tenho fé no progresso, na evolução humana, o que direi aos meus evangelizandos, ou à filha da minha vizinha, quando me perguntarem qual o propósito disso que chamamos viver? Não posso jogar a toalha só porque as coisas estão difíceis, sei que devo dar o exemplo, mas exemplo do quê? É tiroteio, assalto, bala perdida, chacina, corrupção, etc., etc., e lá vai o código penal com crimes que não acabam mais. Isso tudo está aí, está no mundo. Mas, e eu? O que tenho feito da minha vida? Será que devo pedir que parem o meu mundo para que eu desça?
Dois sociólogos americanos chamados Merton e Lazarsfeld desenvolveram um interessante conceito chamado “disfunção narcotizante”, que fala sobre nossa relação com a informação na era da tecnologia. O nome é grande, mas a idéia é simples. Através da televisão, internet, jornais e rádio, tomamos conhecimento do que se passa ao nosso redor, interagimos com a notícia, nos tornamos experts nos assuntos mais variados – desde a caixa-preta do avião que caiu na semana passada á última mora da culinária francesa. Sabemos um pouco sobre tudo, mas não fazemos absolutamente nada sobre coisa alguma. Isso é a disfunção narcotizante: é achar que saber algo, por si só, é uma ação, e dar o assunto por encerrado. Interagimos co tempo todo com as informações que recebemos, mas nunca participamos ativamente desses processos sociais.
Sabemos que as coisas não estão fáceis – e realmente não estão – mas, e nós, o que temos feito pra melhorar essa situação? Estamos agindo para que as coisas mudem ou estamos apenas consumindo notícias? E ainda que não ponhamos mais crianças neste mundo, o que faremos com as que já estão por aqui? Diremos a elas que não há mais esperança, que o sonho acabou? Talvez não seja esse o caminho. Ao invés de nos conformarmos com a idéia de que vivemos no pior dos mundos, talvez seja melhor desligarmos um pouco nossos televisores e voltar àquele velho chicle do beija-flor, que, sozinho, se propôs a apagar um incêndio. Façamos algo! Pelo menos assim não precisaremos nos esquivar na próxima vez que virmos uma criança.
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POESIA
Terceira idade
Leandro Couto
Os anos não nos trazem apenas cabelos brancos,
Vem a experiência, mestra da vida, e a sabedoria.
É belo ser jovem e temerário, mas talvez
Mais belo é ser velho e iluminado pela vida.
Cada idade tem seu próprio encanto, a beleza própria.
E a vida tem estações, à semelhança do ano:
A primavera da infância e da adolescência pura,
O verão da mocidade e o outono da madureza.
Mas o inverno da velhice não é o fim que aparenta.
Também a vida, à semelhança dos anos, se encadeia
Em estações e se renova nas encarnações.
O branquear dos cabelos é o princípio das nevadas
De um inverno... mas após cada inverno
Voltará a primavera, na direção da sabedoria.
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Aniversariantes do trimestre:
Julho
03 - Marly
10 - Nilton
27 – Edson e Alzira
Agosto
10 – Anselmo
Setembro
07 – Maria Helena
11 – Aurora e Érico
12 – Francisco Rosário
13 – Isabel
16 – Carmoly
20 – Rose
23 – Lindinalva
29 – Valmira
Meus cabelos estão brancos
Parece que envelheci;
Foi aos trancos e barrancos
Que alguma coisa aprendi.
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