OPINIÃO
Convivência religiosa
Adilton Pugliese
O célebre príncipe indiano Siddharta Gautama (séc. VI a.C), o Buda, “justificava suas prioridades com a famosa metáfora da flecha. Ele identificava a condição humana com a do homem que tivesse uma flecha envenenada nas costas, e declarava que a tarefa humana fundamental era arranca-la e ajudar os outros a fazerem o mesmo”.
Certamente que esse desafio, numa visão humanista e concorde os princípios da solidariedade, pertence a cada homem que já reconhece o outro como seu próximo, sendo-lhe solidário consoante o ensino de Jesus, que elevou o amor fraterno ao nível de excelência, ao declarar: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Marcos 12:31).
É também possível que outro grande desafio, dentro desse princípio do amor fraterno, seja nos reconhecermos como irmãos, todos filhos do mesmo Pai, que é Deus.
E, sem embargo, as religiões – e, porque não dizer, com o apoio da Ciência – têm um papel preponderante nesse esforço para arrancar a flecha do sofrimento que está cravada no coração do homem moderno, vitimado por inúmeros transtornos, dominado pela violência, pelos vícios e pelas enfermidades dilaceradoras, enfrentando enigmas que têm desafiado o tempo, a exemplo do porquê da dor e da morte.
Às religiões, portanto, essa missão divina de mostrar ao homem o caminho que o reconduzirá a Deus, beneficiando-se com o pensamento diretor da Divindade, através de Sua Misericórdia e de Sua Providência.
Quando o médium Divaldo P. Franco, idealizador da Mansão do Caminho, esteve, no ano 2000, na ONU, no Encontro Mundial pela Paz, juntamente com líderes religiosos de todo o mundo, com o comparecimento de 749 delegados de 73 países, num total de 3.000 representantes, para debater e produzir uma proposta de paz para a Humanidade, um líder religioso judeu afirmou que para ser respeitada sua crença ele deveria respeitar as outras religiões, já que não era a única. Ali etavam representantes do Budismo, do Hinduísmo, do Xintoísmo, das Igrejas Reformadas, do Masdeísmo e da alta hierarquia das igrejas Católica e Ortodoxa Russa.
Ouvindo esse comovedor depoimento, Divaldo Franco recordou-se de antiga prábola narrada pelo venerável Espírito Joanna de Angelis: “Deus tomou de um imenso espelho no qual Ele estava refletido e atirou-o à Terra. Ao bater no solo, fragmentou-se em mil pedaços. Cada criatura da Terra, ao pegar-lhe um pedaço, ficou com um fragmento que reflete Deus, mas ninguém conseguiu a posse total, razão por que Deus se revela proporcionalmente ao nível de consciência e inteligência de cada um”.
Todo o esforço das religiões deve ser concentrado, então, em reunir esses fragmentos para um dia sermos um todo, uma unidade, embora a diversidade dos postulados ou dogmas que animam, que movimentam a prática de cada religião,m por força de suas veneráveis origens, com a contribuição que receberam, no decorrer dos séculos, de homens e mulheres notáveis que se sacrificaram e se deixaram imolar pra a libertação da consciência dos homens dos grilhões dois vícios, da violência; sobretudo do egoísmo e do orgulho. Nesse contexto destacamos Allan Kardec (1804-1869), o codificador da Doutrina Espírita.
Acreditamos ser possível a convivência religiosa, porquanto nos animam, aos que professamos religiões espiritualistas, os mesmos pontos comuns. Há convergências em torno da existência de Deus, da imortalidade da alma, da Justiça Divina, mas, sobretudo, da prática da Caridade.
Embora a realidade da existência de divergências de práticas doutrinárias, o objetivo de todas as religiões é o homem, o homem sofrido de nosso tempo, e que perdeu o endereço de Deus.
Conforme declara o Espírito D. Bezerra de Menezes, recordando a palavra de Jesus, “a casa dividida rui, todavia ninguém pode arrebentar um feixe de varas que se agregam numa união de forças”.1
Louvável, portanto, iniciativas sinceras de extrapolarmos a vivência para experimentarmos, também uma convivência religiosa. E, se alguém questionar como será possível concretizar esse desafio, poderemos dizer: perguntemos ao amor, e ele responderá que unamos esforços o sigamos o 13° Mandamento, proferido por Jesus, quando declarou: “Novo mandamento vos dou: amai-vos uns aos outros” (João 13:34).
E nos momentos de crises e de incertezas, nos deixemos envolver pela inesqucível recomendação do Meigo Rabi, quando sentenciou para seus seguidores de todos os tempos: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (João 13:55).
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1. Bezerra de Menezes Ontem e Hoje. 1ª ed. FEB, p.100.
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