quarta-feira, 8 de junho de 2011

Número 2 / Página 6

CULTURA

Espiritismo e ecologia
Juçara Fraga


As preocupações do homem com as questões ambientais vêm aumentando ao longo do tempo em virtude das significativas alterações climáticas causadas pelo uso inadequado dos recursos naturais, pela elevada emissão de gases poluentes  das indústrias na atmosfera, pela grande produção de lixo de difícil degradação que o homem ainda não aprendeu a reaproveitar, provocando  o aquecimento global e a poluição dos mananciais de água, comprometendo  a sobrevivência das atuais e das futuras gerações.
Sabemos  que estamos em movimento evolutivo contínuo e nele também o planeta Terra, que ao longo dos milênios vem passando por transformações, às vezes imperceptíveis, outras vezes catastróficas, onde os  agentes da Natureza, sob o comando dos engenheiros siderais, foram fazendo o seu trabalho.
Então podemos concluir que a Natureza não dá saltos. A evolução deve acontecer de forma lenta e progressiva para que o homem evolua no ambiente para ele criado, no mesmo ritmo evolutivo da Natureza, em harmonia com os seus semelhantes e com o ambiente que o cerca.
Desde os primórdios o homem tem se interessado pela Ecologia, pois para o indivíduo sobreviver ele precisava  conhecer seu ambiente através da compreensão das forças da Natureza, dos reinos mineral, vegetal e animal, da observação dos astros que se deslocam nos céus, o vento, a chuva, variações de temperatura, as estações do ano, as plantas a serem cultivadas enfim com tudo que a Natureza lhe apresentava até chegar ao desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia atuais. Só que ao longo do tempo o homem levou o planeta às condições em que se encontra. Somos parte de um sistema de inter-relações onde uma espécie alimenta-se da outra para sobreviver e o homem encontra-se no final dessa cadeia transformadora, cabendo-lhe a responsabilidade da defesa e preservação ambiental para que o equilíbrio do planeta seja mantido, seguindo a lei de Evolução, construindo e alimentando comunidades sustentáveis procurando satisfazer suas necessidades sem comprometer a sobrevivência das gerações futuras, através da tentativa de minimizar os efeitos da sua ação sobre o meio ambiente.
O homem, segundo estimativas ,produz 0,6 kg de lixo/dia e se projetarmos isto para o globo com uma população de mais de seis bilhões de pessoas, a quantidade de lixo é espantosa. A questão é onde jogá-lo e o que fazer para que não contamine o ambiente.
O desperdício também é um grande problema. É o gasto sem proveito e a utilização incorreta ou incompleta de bens econômicos, causado pela massificação do consumo e pelo planejamento deficitário, como exemplo temos o desperdício da produção agrícola por falta de infra-estrutura, da água por deixarmos a torneira aberta no banho, luzes acesas sem necessidade, etc. Existe também o desperdício de tempo que polui a convivência harmoniosa, como conversas desnecessárias  ao telefone, maledicência e tantos outros que poderia ser empregado, por exemplo, com o estudo ou com ajuda ao próximo.
Os homens são obrigados a transformar os recursos naturais para prover as suas necessidades. Alterar o meio ambiente usando os bens materiais sem comprometer o equilíbrio da natureza para obtenção do bem comum é onde  reside a grande questão da preservação e conservação ambiental.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, oferece-nos condições para melhor avaliarmos o assunto quando trata da Lei de Conservação e da Lei de Destruição, dizendo-nos em resposta à pergunta 705”porque a terra nem sempre produz bastante para fornecer o necessário ao homem? – “É que, ingrato, o homem a despreza.  Ela, no entanto, é excelente mãe... A terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se.Se ela não cumpre todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário. Olha o árabe no deserto. Acha sempre do que viver, porque não cria para si necessidades fictícias. Mas,quando metade dos produtos é desperdiçada na satisfação de fantasias,que motivos tem o homem de se espantar de nada encontrar no dia seguinte...ou quando chegar os dias de penúria? Em verdade vos digo,  imprevidente não é a Natureza, mas o homem que não sabe regar o seu viver.”
E na pergunta 735 – Que pensar da destruição que ultrapassa o limite das necessidades e segurança? - diz-nos que é “a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual. Toda destruição que ultrapassa os limites da necessidade é uma violação da Lei de Deus. Os animais não destroem mais que necessitam, ao contrário do homem, que tem livre arbítrio, destrói sem necessidade. Prestará contas do abuso da liberdade que lhe foi concedida...”
“A Natureza é sempre o livro divino, onde a mão de Deus escreveu a história da sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem, evoluindo constantemente com o esforço e a dedicação de seus discípulos”, nos reponde o espírito Emmanuel  à pergunta “Como devemos compreender a Natureza” no livro O Consolador, psicografado pelo médium Chico Xavier. E, no mesmo livro, ele responde à pergunta 121 “O meio ambiente influi no Espírito? – O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes  constitui a prova expiatória; com poderosas influencias sobre a personalidade, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influência”.
À luz da Doutrina Espírita preservar o meio ambiente diz respeito a uma questão mais profunda da consciência ecológica de respeito a qualquer forma de preservação da vida e do respeito pela vida em sintonia com as leis morais que regem o Universo.
Precisamos começar desde já a nos modificar se quisermos modificar o mundo. Pois, a previsão de catástrofes ecológicas para este milênio, de conseqüências imprevisíveis são reais. A destruição em nome do progresso e do desenvolvimento do planeta que está sob nossa guarda e responsabilidade para vivermos, evoluirmos e preservarmos para as futuras gerações, pertencem a Deus.
Essa modificação deve começar de dentro para fora, com a educação dos nossos sentimentos, pensamentos, palavras e ações, buscando cultivar em nós o equilíbrio ecológico interior e ”sermos a mudança que nós queremos ver no mundo”, como disse Mahatma Gandhi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário