OPINIÃO / José Medrado
Ignorância, incerteza e insegurança
Faz algum tempo que li, estudei um interessante trabalho da doutora em filosofia Marilena Chauí, onde ela faz uma reflexão acerca da ignorância, incerteza e insegurança. Situações que sempre nos ocorrem á mente, ao coração, quando nos deparamos com o novo, o inusitado, com o que não temos o hábito de lidar, como, por exemplo, a chegada de um novo ano, ou com valores que estão tão arraigados em nosso eu, onde qualquer mudança indicaria uma violência interior.
É sabido que ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignoramos. Daí rechaçarmos, muitas vezes com brutal violência, tudo aquilo que vem de encontro a estes nossos velhos conceitos. Em geral, o estado de ignorância se mantém em nós, enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no mundo se conservam como eficazes e úteis. É como se ocorresse o pensamento: se está tudo arrumado, para que eu vou mexer? Ou, então, achamos que sabemos tudo o que há para saber, para que buscar o novo?
A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da realidade, da dinâmica de transformação geral que nos rodeia. Descobrimos que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos serviu como referência para pensar e agir.
Na incerteza, não sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer, em certas situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. temos dúvidas, ficamos cheios de perplexidade e somos tomados pela insegurança. Todavia, havendo disposição de mudança, mente aberta para entender os reclames da vida, da sociedade, poderemos até nos chocar com o novo, mas estaremos com a chamada dúvida filosófica, primeiro passo para se aceitar as transformações, o novo.
Outras vezes, estamos confiantes e seguros e, de repente, vemos ou ouvimos alguma coisa que nos enche de espanto e de admiração; não sabemos o que pensar ou o que fazer com a novidade do que vimos ou ouvimos, porque as crenças, opiniões e idéias que possuímos não dão conta do novo. O espanto e a admiração, assim como antes a dúvida e a perplexidade, nos fazem querer saber o que não sabemos, nos fazem querer sair do estado de insegurança ou de encantamento, nos fazem perceber nossa ignorância e criam o desejo de superar a incerteza. O problema, no entanto, nessa situação apresentada pela Dra. Chauí, é que apegados às nossas crenças e por uma vaidade excessiva do “nosso saber” nos posicionamos na situação de combatentes do novo, de querer destruir a idéia inusitada, pois assim os nossos velhos, obsoletos conceitos não serão colocados em xeque, pois nós somos os tais.
Essa situação, vivenciamo-la sempre: em casa, com filhos e parentes; no trabalho; na vida religiosa, onde quer que estejamos, pois não poderemos expor, publicamente, que os nossos conceitos estão distorcidos, equivocados ou mesmo ultrapassados. Puro orgulho e vaidade.
Todavia, poderemos rever, sim, sempre situações e conceitos e quando esta disposição saudável surge, significa que estamos crescendo, pois a isto chamaremos de busca da verdade.
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