OPINIÃO
Educação: processo de autoconhecimento
Lourdes Reis - psicopedagoga e colaboradora do Lar João Batista
A sociedade contemporânea separa o processo de educação do ser em vertentes distintas e excludentes entre si: a educação formal, a educação religiosa e a educação familiar. Isto em conseqüência da ruptura entre ciência e religião e pelo processo de evolução da família. Dessa forma, o ser integral, individu-alidade singular e indivisível em evolução, vivencia em sua itinerância de espírito encarnado, diferentes processos em diferentes espaços educativos e de apren-dizagem, a partir de diferentes paradigmas quanto ao seu vir-a-ser.
Os processos formativos da educação escolar encaram a criança como um ser desprovido de experiências anteriores ao nascimento, visualizando, entretanto, (de forma muitas vezes inadequada) as relações sociais e familiares. Há, hoje, nos meios educacionais, um chamamento constante em prol da inclusão social de seres marginalizados pela cultura dominante, aqueles que não se apropriaram dos códigos da modernidade, que não têm acesso aos ciberespaços, bem como, os ainda excluídos pela cor. Percebe-se o aspecto multicultural da educação, contudo, ainda sob a crença da vida única. Crença esta, que se torna hegemônica, à medida que os espíritas, aqueles que estão atuando na educação, abstêm-se de tratar a criança como um espírito encarnado, esquecendo-se de que ela traz em seu cerne, infinitas possibilidades de crescimento e de aprendizagem.
Pergunta-se, então, qual seria o papel do Centro Espírita na educação do Ser. Como seriam as aulas de evangelização para atender às necessida-des da criança que vive na sociedade do conhecimento global, da multic-ultura (de dois planos de vida). Uma criança que vivencia espaços multirreferenciais e que por sua vez são seres multirreferenciais e multidimen-sionais, dotados de inteligências múltiplas, não apenas no sentido que Gardner coloca, mas na acepção de que essas inteligências são fruto de experiências reencarnatórias, formativas do ser imortal em evolução. A propósito, “atualmente Gardner admite a existência de uma oitava inteligência, a naturalista, que seria a capacidade de reconhecer objetos na natureza, e discute outras, a existencial ou espiritual e até mesmo uma moral — sem, no entanto, adicioná-las às sete originais”1 .
A inteligência espiritual, admitida a sua existência nos meios educacionais, seria a referência do processo educativo à qual as demais estariam vinculadas. Teria que se perguntar: que ser é este, que se nos apresenta único, singular, multirreferencial e complexo, que traz diferentes demandas, que vêm de diferentes espaços sociais (de dois planos de vida)? A resposta a essa pergunta seria uma organização curricular inter e transdis-ciplinar, em que o conhecimento, fruto da construção histórica da humanidade teria livre trânsito entre as disciplinas do programa educativo e as especificidades do espírito encarnado seriam levadas em conta na tarefa educativa.
Assim também deveria ser o currículo da Evangelização no Centro Espírita. Talvez até, mudando-se esse caráter doutrinador, instaurando um processo realmente educativo do ser para sua atuação na sociedade, como um cidadão capaz de refletir a sua capacidade de contribuir para a implantação do reino dos céus, prometido por Jesus, mas que deverá ser cumprido por nós, através de uma educação planetária. Minimizando o caráter de religiosidade do Espiritismo e enfatizando a sua perspectiva filosófico-científica, de conseqüências religiosas. No sentido, não de práticas ritualísticas, mas de construção e de articulação de saberes que contribuem para a auto-educação do ser reencarnado que vem ao mundo físico para contribuir com o seu aperfeiçoamento moral.
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(1) PELLEGRINE, Denise. Aprenda com eles e ensine melhor. Nova Escola. Jan./Fev. 2001. Disponível em: http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/139_fev01/html/repcapa. Acesso em: 25 jan. 2007.
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